sexta-feira, 9 de julho de 2010

Collares: "votar no Fogaça é entregar o RS para um incompetente"

Líder trabalhista apoia Tarso Genro (PT) ao governo, contrariando aliança com PMDB, e provoca: "a política não pode ser imparcial"


O ato de lançamento das candidaturas do PT, na terça-feira, dia 6, expôs um racha dentro de um dos partidos mais tradicionais do Rio Grande do Sul, envolvendo um dos políticos mais conhecidos do Estado. O ex-governador pedetista Alceu Collares, herdeiro do trabalhismo de Leonel Brizola, declarou voto em Tarso Genro, do PT, contrariando a executiva estadual, que apóia José Fogaça (PMDB). O vice de Fogaça também é do PDT, o deputado federal Pompeu de Mattos.

Mesmo após decidir que iria pronunciar-se apenas após reunião com o partido, na segunda-feira, 12, Collares falou com exclusividade ao iG, e explicou as razões que o levaram a defender a candidatura de Tarso. “A direção estadual não só está descumprindo a orientação do PDT nacional como está apoiando a traição à candidatura de Dilma feita por (Pedro) Simon e Fogaça”, acusou o ex-governador.

Collares apóia-se em duas motivações principais para apoiar Tarso. Em primeiro lugar, a orientação do PDT nacional. Em segundo, a ideologia: “Estou com a coerência, com as ideias, com os fundamentos do trabalhismo. O PDT é um partido de esquerda, por isso está no governo Lula, que é a grande transformação do país, e em convenção foi decidido que a questão nacional pesa mais que a estadual”, afirmou.

Apesar do desagrado da direção estadual, o líder trabalhista conta ter recebido muitas mensagens de apoio, vindas de prefeitos, vereadores e coordenadores. “Gente de peso está alarmada com a contradição que o PDT está praticando aqui”, garante.

Após afirmar ainda que vota em Tarso porque este representa a linha de Lula, Collares explicou os motivos pelos quais não apoiaria Fogaça. Primeiro, criticou ex governadores do PMDB: “O Simon, o Britto e o Rigotto como governadores foram um fracasso. Votar no Fogaça é entregar o Estado para um incompetente”.

Collares mostrou-se incomodado com o posicionamento do candidato do PMDB com relação à eleição nacional. Com o PMDB em embate com o PT no Rio Grande do Sul, Fogaça preferiu não tomar posição sobre os candidatos à presidência, chamando a atitude de “imparcialidade ativa”. Collares disparou: “Ele chegou a inventar a ‘imparcialidade ativa’. Um professor de língua portuguesa está agredindo a língua portuguesa. Imparcialidade é qualidade de juiz. A política não pode ser imparcial. A política tem que tomar decisão”, afirmou.

Trabalhismo
A longa trajetória de defesa do PDT é evocada por Collares para dar importância à sua posição. Para ele, a direção estadual está passando por cima de defesas históricas do trabalhismo. “Estou me colocando como quem tem 45 anos de coerência política. Quem construiu o trabalhismo aqui em grande parte fui eu. Minha posição não é só de defesa da decisão nacional, mas de defesa do Rio Grande do Sul”, explicou o ex-governador.

O presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Jr, criticou Collares por manter a dissidência mesmo após a convenção estadual. Para ele, o momento de discutir era antes, agora as decisões do partido devem ser acatadas. Garante ainda que Collares teria prometido aceitar a decisão da Convenção.

Segundo Bolzan Jr, a tendência da reunião que acontecerá na próxima segunda-feira para discutir o assunto é minimizar a questão, e que o partido é maior do que posições pessoais. “Quem cuida de criança rebelde é serviço de orientação escolar, não partido político”, ironizou.

Procurado pela reportagem, o deputado federal Mendes Ribeiro, coordenador de campanha de Fogaça, afirmou que Collares é um eleitor como qualquer outro, e não poderia esperar que todos os eleitores do PDT votassem em Fogaça. Sobre a afirmação de Collares de que o candidato do PMDB é “incompetente”, Mendes disse que não pode “comentar o incomentável”.

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