Por Ana Carolina Martins da Silva
Mestre em Comunicação Social e Ambientalista e professora da UERGS
Parece ironia dizer isso de um partido cuja principal característica é ser formado por Tendências, por frentes com posições e quadros muitas vezes antagônicos ou independentes entre si. Porém, o PT, dentre os partidos que se apresentam no Brasil advogando unidade, hoje, é o único Partido que não está partido, tem se organizado para ocupar o poder e gerar transformações sociais. Passadas muitas disputas internas, pequenas e distantes vitórias, como sua primeira prefeitura, o PT foi abraçando e sendo abraçado pelo Brasil, sem parar de se articular ou de articular-se com os outros, sem perder a estrela, sem mudar a legenda, sem trocar de casa, numa revisão de práticas constante.
Exemplo disso foi o seminário organizado pelo PT-POA para discutir e aprimorar a comunicação interna, e por conseqüência, externa do Partido. O evento aconteceu no dia 14 de maio, às 9h e 30min, no auditório da sede (João Pessoa, 785). À mesa, estavam João Ferrer, jornalista e coordenador da bancada do PT na Assembleia Legislativa e Paulo Cesar Rosa, jornalista e publicitário, assessorados pelo Vereador Adeli Sell, presidente do PT local, e por Michele Sandri, Secretária de Comunicação.
Após as colocações dos painelistas sobre comunicação política, partidária, institucional e marketing partidário e comunicação, observou-se que é preciso cada vez mais os partidos políticos estarem próximos da população, seja através de mídias tradicionais como jornal, seja através de mídias eletrônicas, como as redes de internet. Entretanto, a figura de contato mais saudosa e comentada como grande propagandista dos ideais do PT foi o militante.
O fortalecimento deste segmento pode ser mais importante do que o uso da internet, porém, em minha opinião, não da forma “profissional” como está acontecendo hoje. É deprimente ver, em épocas eleitorais, figuras completamente desprovidas de motivação sacudindo bandeiras nas calçadas, ou entregando panfletos, como quem se livra deles.
Os bonequinhos infláveis de Posto, por vezes, demonstram mais amor à camiseta do que esses “militantes”, pois pelo menos trazem alguma coisa por dentro, ainda que vento. Paulo Cezar da Rosa em seu texto: O marketing político no Brasil 2010 ( In http://www.cartacapital.com.br/.) comentou sobre outros tipos de articuladores, o visitador e o multiplicador: “O que a internet revela é que a eleição está saindo da TV e migrando para o corpo a corpo. Candidato que quiser ser eleito precisa ter equipes de visitadores e multiplicadores, precisa de escritórios políticos profissionais em cada município, em cada bairro. Não se trata mais de “comprar” apoios de lideranças, de assalariar os formadores de opinião no período da campanha. Não. Hoje se trata de fazer chegar a mensagem até o eleitor, da forma mais profissional e transparente possível.”
Quantos de nós já não fomos multiplicadores ou visitadores por amor a uma causa? Será que as agências publicitárias podem substituir as conversas de bar, de esquina, o risoto de final de semana com violaço? Onde foi parar o sabor de ser militante? Ser militante era um estado de espírito. Acreditava-se que o proletariado tinha de tomar o poder. Era isso. Era preciso concentração. Era preciso não dispersar, como dizia Lênin. Lembro de um amigo que fiz em Passo Fundo, em 1986. Sempre que eu o encontrava, ele estava falando em política e era do PT. Um dia, eu perguntei a ele: Escuta, você está sempre falando em política, comendo política, jogando política.
Afinal, o que você faz para se divertir? Ele me respondeu: Eu milito. Essa indissociabilidade é o que sente um bom militante, eu acredito. Seja das causas políticas, seja das causas ambientais, religiosas, étnicas, sexuais, enfim, o militante é aquele que milita. Parece redundante, mas o que quero dizer é que o militante de verdade é aquele que milita o tempo todo. Ele é o exemplo da causa. Ele é a Causa. Como o Lula, o Lula ainda milita e milita o tempo todo.
Consta que certa vez Lênin solicitou informações sobre as qualidades de um militante relativamente a: 1) do ponto de vista da honestidade; 2) do ponto de vista político; 3) conhecimento do assunto; 4) capacidade administrativa. (V. I. Lênin "Coletânea Leninista", vol. XXIII, pg. 164. In Os Ensinamentos de Lênin Sobre o Caráter Operativo do Trabalho de Organização de B. Iakovliev). Estas características, que tanto interessaram a Lênin para melhor administrar sua organização, ainda são importantes para se saber que tipo de militante se tem, ou ainda, que função ele melhor pode desempenhar. Talvez nisso o PT tenha se perdido um pouco e perdido alguns militantes. Os tempos mudaram, ninguém mais luta cegamente por amor. Os militantes não são mais objetos, são sujeitos. Atualmente, até o amor é reflexivo, tem prós e contras. O PT investiu sempre em seminários, debates, reuniões, amadurecimento, formação, era natural que os militantes, mais cedo ou mais tarde, aprendida a técnica do pensamento, começassem a questionar algumas coisas no Partido.
Aqueles que queriam que o proletariado chegasse ao poder com o PT, conseguiram seu intento, o PT governa o Brasil há três mandatos, possui o comando de Prefeituras, com reeleições, de Estados. O PT atingiu o poder, então, por que alguns dos militantes históricos foram embora e não voltaram? Acredito que, dominada a técnica do pensamento, descobriu-se que o poder não era o fim. O Proletariado não precisava apenas chegar ao poder, ele precisava ser feliz, precisava de transformação social,de coletividade, de convivência, precisava de empatia com o partido no que tange à honestidade, ao ponto de vista político, ao conhecimento do partido sobre o povo e sobre como administrar com e para o povo. Muito o PT fez, apoiou a construção de Movimentos Sociais, Centrais Sindicais. Esteve presente em lutas históricas como nas eleições diretas, como a criação do Orçamento Participativo, hoje, exemplo para países do mundo todo. Os governos nacionais do PT fomentaram a inclusão social, uma melhor distribuição de renda, planejamento estratégico incluindo a todos, os micros e os macros. Só que isso a militância imediatista não viu. Desde que se tornou governo, o PT não perdeu para os outros, a dita oposição só apareceu, quando o PT perdeu para si mesmo, para a fragilidade de uma estrutura baseada em ações humanas, em um quadro não mais ancorado em utopias, inserido em uma Instituição corrompida e viciada pelo Poder, como o Governo Federal. Convivendo entre feras, vimos muitos do PT se transformarem em feras. Por isso alguns militantes foram e não voltaram. Acreditaram que era o fim do PT, mas o PT não termina, ele se reconstrói e se reinicia.
O que fazer? Voltar ao início com tudo que já foi acumulado de conhecimento. Voltar sabendo que a meta não deve ser apenas tomar o poder. Não o poder pelo poder, tampouco esse poder como está. O PT-POA volta às origens: Seminários, debates, reuniões, amadurecimento, formação. Agora não é mais uma criancinha seguindo em frente sem saber bem aonde vai dar o caminho, tampouco é um adolescente, que ruge e se rebela, muitas vezes sem conseguir administrar as consequências de sua revolta. O
que a militância vê é um PT de 31 anos, inteiro, que já sabe o que pode e o que não pode fazer. Ainda aprendendo a selecionar suas companhias, ainda aprendendo a manter a lucidez diante do capital, ainda aprendendo a ouvir o povo, ainda aprendendo, o que talvez seja o mais importante de tudo.
Posto isso, a militância que fica, milita.
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