Porto Alegre é uma cidade eminentemente conservadora e atrasada. Está em nossa origem, está no DNA de nossa cultura e formação urbanística. Fiéis ao Imperador, recebemos a divisa de "Leal e mui valorosa cidade" do Duque de Caxias. "O conservadorismo porto-alegrense remonta às nossas origens açorianas, essa gente simples, de extração camponesa, que aqui reproduziu seu modus vivendi (...)" - Luis Carlos da Cunha Carneiro e Rejane Pena, em Emoções Masson.
Segundo eles, "muito de nosso conservadorismo vem daí". Este é o âmago da questão. Já nascemos assim. Tentamos mudar com a vinda dos alemães por via torta, acabando com aspectos da arquitetura herdada dos nossos fundadores, portanto jogando fora uma parte de nossa História.
Há localidades onde as coisas acontecem em ritmo acelerado e frenético. De um dia para outro, surgem novas vias e bairros. Edifícios são erguidos e novas atrações são entregues à sociedade quase que num piscar de olhos. Definitivamente, em Porto Alegre não é assim. Aqui, as coisas se arrastam ao ritmo das gerações. A nossa modernidade há tempos está suspensa.
Há 30 anos um engenheiro genial e ousado inventou o aeromóvel. Mas só agora, em 2013, um primeiro modelo entrará em ação de forma comercial. Foi preciso outra ousadia, desta feita da gestão da Trensurb, para derrotar o conservadorismo da área de meios de transporte. Nesta mesma linha, terminamos com os ônibus movidos à eletricidade para botar nas ruas os poluidores de óleo diesel.
Vontade de fazer me parece que não falta, mas, como na era imperial, as discussões se arrastam por décadas. O metrô vai sair. Mas sairá porque os europeus estão entrando na disputa. A crise de lá irá favorecer os de cá. O problema é que não será a nossa ousadia que implantará esta modalidade de transporte, mas sim circunstâncias exteriores. É sempre a mesma coisa: uma luta incessante para superar nosso conservadorismo.
Em 1923, a Casa Masson implantou seu crediário. Uma inovação para a época, com pagamento em prestações. Nada a ver com o caderninho da venda para pagar no final do mês. Mas o tradicional Banco da Província, estabelecido no outro lado da rua, no Edifício Malakoff, não abriu linha de crédito à mais importante loja da cidade, sendo que seus fornecedores do Rio de Janeiro adiantaram um bom valor para que esta modernidade fosse aqui implantada. O sopro veio novamente de fora.
Porto Alegre somente agora recebe seus contêineres para o lixo. Mas aceita os avós da classe, implantando apenas um tipo para o resíduo domiciliar. Já a nossa Caxias do Sul, na serra gaúcha, há anos tem modelos moderníssimos, com dois exemplares para separar o detrito seco, não criando esta barafunda e imundície que temos na Capital.
Temos preservado até aqui o Mercado Público no coração da cidade, apesar de seus quatro incêndios. Mas um sujeito, com espaço na mídia local, propõe botar tudo para o chão. Não pode ter visão mais conservadora do que esta. Ainda bem que quanto a isto, desta vez, parece que foi voz isolada. Talvez estejamos acordando para a modernidade, já que se fala tanto em "acordar".
Não fosse um gringo de Marau, consorciado com alguém de fora, o que não teriam feito com a Cervejaria Continental, o nosso Shopping Total? E com o prédio Guaspari, oriundo da década de XX no Centro da cidade? Foi o primeiro prédio modernista feito pelo arquiteto Fernando Corona, hoje liquidado pelo atraso do nosso comportamento. O seu envelopamento acabou com a estética do edifício.
Vale o mesmo para o Viaduto Otávio Rocha, um marco de nossa ousadia na década de XX, que hoje está numa deterioração de dar dó. O governo local não tem 10 milhões para investir em sua revitalização. Daí surge a fúria conservadora que ataca a proposta de uma PPP - Parceria Público-Privada. Prefiro acreditar que para ser vanguarda precisamos propor, ousar e sair na frente.
ADELI SELL é escritor e consultor
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