Faz 40 anos que cheguei aqui. Fui parar na Pensão La Maravilha, na Riachuelo, na frente do Cultural. Esta, como outras, sumiu. Em seguida, a estudantada e jovens que vinham do interior se juntavam e alugavam uma "baia". Puxa, ninguém mais fala assim, ou fala?
Peguei um Santa Tereza, fui ao Belvedere Rui Ramos, de lá vi a cidade encantada, o Guaíba, e foi paixão que nunca terminou e não vai acabar. Para um colono de Santa Catarina, era tudo um sonho.
Os bondes já tinham acabado, os lotações estavam surgindo. Lembrando de algumas destas coisas, fico a pensar que em Porto Alegre sempre há uma coisa ou outra a descobrir.
Entre no Mercado Público, abra os olhos e os ouvidos, para ver e ouvir de tudo. Um dos lugares mais democráticos do planeta. Tem de tudo e para todos os bolsos e gostos. Se a bomba de sorvete da 40 não é mais a mesma há controvérsias, mas surgiu o Beijo Frio no segundo piso para compensar. Os cafés evoluíram, mas a gente ainda acha um farroupilha com café com leite.
Pegue o Ônibus de Turismo no Zumbi dos Palmares, mas que continua sendo Largo da Epatur, e veja que em cada ângulo, em cada olhar, em cada canto tem algo a descobrir nesta cidade. Dali vais ver uma arquitetura que sempre existiu, mas não tinha notado. Vais ver que apesar dos detonadores do patrimônio muita coisa resistiu, como o casario da Venezianos, ou as casas repintadas da João Manoel.
O Viaduto Otávio Rocha resiste, apesar da pichação. O Monumento a Júlio de Castilhos, na Praça da Matriz, tão maltratado exige sua formosura dos gloriosos tempos do Positivismo, que ainda teima em se fazer presente nos cantos da nossa cultura, especialmente na política.
As gurias e os guris deixaram o Bomfa, largaram a Esquina Maldita, para tomar conta da Lima e Silva e fazer ponto no Guion. O cachorro do Rosário não se deixou derrotar pelo fast food americano, a ele se juntou o Kurtz da Borges e outros.
O Santuário Mãe de Deus nos altos da Glória, ali no Morro da Embratel à esquerda, nos dá a condição de um ângulo de 360 graus para descobrir paisagens nunca vistas. Subindo no Apamecor é outro deslumbre, como foi aquele meu quando subi o Morro Santa Tereza.
Ipanema continua existindo, sumiram os quiosques, os novos não chegaram, mas chegarão. No Belém Novo e no Lami já dá para voltar a se banhar como nos velhos tempos. Talvez você prefira Tramandaí, mas eu prefiro o rumo Sul sem engarrafamentos.
Na Vila Nova e no Belém Velho ainda temos nossos pêssegos, nossa uva, nossas ameixas. O turbilhão imobiliário não teve força para derrotar a área rural. A Feira do Peixe nasceu antes de Porto Alegre ser cidade, está ali no Largo Glênio Peres, no mesmo lugar onde começou. Ao lado, o Chalé está preservado, será restaurado, ganhou um espaço maior, sem perder sua originalidade.
Na Arquitetura é obrigação lembrar do grande Theo Wiederspahn, o alemão, que fez os prédios da antiga Cervejaria Continental, hoje Shopping Total, o Edifício Ely, onde é o Tumelero do Viaduto da Conceição, o prédio do Correio velho, hoje Memorial, a Casa de Cultura Mário Quintana, que foi Hotel Majestic, entre outras tantas formosuras que fez.
O Teatro São Pedro se mantem pela fibra e trabalho da Dona Eva Sopher, a Ospa patrimônio imaterial, ganhará sua sede em breve, pena que tiraram o Araújo Viana da Praça da Matriz, onde hoje está nossa Assembléia, e que destoa de todo o entorno, pois o Piratini, o Solar dos Câmaras, a antiga Assembléia, o Forte Apache, tudo está ali.
Não só veja isto tudo, circulando e olhando, mas veja quanto há roteiros a pé pelo Centro e outras atividades turístico-culturais, para conhecer em cada um destes espaços também um canto, uma coisa, ainda a descobrir.
Rendo-me a ti, Porto Alegre, valorosa, cheia de encantos mil, brava gente porto-alegrense, nos seus 240 anos!
Adeli Sell é vereador e presidente do PT em Porto Alegre
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