* Mauri Adriano Panitz
Afinal de contas, porque os políticos estão tão entusiasmados em propor uma Nova Ponte sobre Guaíba ao lado da atual, já que não entendem da matéria? Uns afirmam que a ponte do Guaíba está com a sua capacidade de tráfego esgotada, o que não é verdade. Se isso fosse tecnicamente procedente, não seria também necessário aumentar a capacidade das pistas e das pontes em cada uma das ilhas da travessia do Delta do Jacuí? Outros consideram crítica a operação do vão móvel pelos cerca de 600 içamentos/ano que provocam congestionamentos. Ninguém teve a preocupação de classificar tecnicamente esses congestionamentos. Seriam eles Recorrentes ou Não Recorrentes?
Ninguém teve a iniciativa de investigar tecnicamente a natureza dessas falhas operacionais. Seriam elas Naturais, pelo desgaste de peças e/ou obsolescência dos equipamentos, ou seriam Artificiais, isto é provocadas? Se provocadas intencionalmente, o objetivo da obra seria economia de despesas, em custos de manutenção ou de substituição de equipamentos velhos por novos com tecnologias modernas. Se assim fosse, a ponte não seria o problema, mas tão somente os equipamentos de içamento. Então, a justificativa da nova ponte não seriam os interesses econômicos do Estado, mas os interesses políticos e comerciais de alguns.
Mas serão necessários tantos içamentos do vão móvel do Guaiba, se mais da metade dos navios com mastros altos não tem o rio Gravataí como destino? Esses navios poderiam navegar pelo canal do rio Jacuí, uma via navegável que há anos está desobstruída. Além dessa opção que encurta a navegação e reduz a maior parte dos içamentos/ano, existe outra, que seria a possibilidade de submeter esses navios a horário noturno, sem privilégios, como é feito em todo o mundo. Assim, os congestionamentos rodoviários se tornariam irrelevantes.
Mas o desespero das argumentações de alguns beira a chantagem emocional, quando lembram comovidos que, pelo local passam anualmente mais de 7 mil ambulâncias. Esse é o número de ambulâncias que passam por ano, mas não é o número que fica retido nos congestionamentos. Problemas de capacidade viária como este não devem ser tratados pontualmente, mas em nível de rede na região em que a ponte está inserida.
Que a nova ponte é tecnicamente necessária não resta a menor dúvida. Mas faltou nos estudos de localização da nova ponte, contratados pelo órgão responsável, a necessária pesquisa de origem e destino do tráfego para dar maior consistência à análise de viabilidade econômica, que é uma avaliação indispensável a qualquer projeto. Se tivessem sido realizados esses estudos, com certeza teríamos a indicação de que a nova ponte deveria ser construída em outro lugar, distante das adjacências dos já conturbados bairros: Navegantes e Humaitá.
A primeira linha de desejo do estudo apontaria a diretriz do Polo Petroquímico e Eldorado do Sul. Com essa ligação boa parte do tráfego seria desviada, aliviando o volume de tráfego na ponte atual e no entorno do bairro Navegantes. A segunda linha de desejo do estudo apontaria para o prolongamento da RS-118, entre Viamão até a praia do Lami, onde uma ponte sobre o Lago Guaíba faria a ligação com BR-116, Porto Alegre- Pelotas, na altura da Barra do Ribeiro, formando um grande Anel Rodoviário da Região Metropolitana.
Na realidade, “Uma ponte não cai do céu”, como diz o título de artigo publicado no JC, em 31/08/2011, mas se a nova ponte não for estudada em base a critérios técnicos, terá seu custo duplicado e a peso em ouro, talvez bem mais do que custou a ponte chinesa, quinze vezes maior, sobre a baia de Jiaodhou. A obra de arte especial será conhecida pela posteridade como “Guaíba Golden Bridge”, não pela sua engenhosidade, mas pela malversação de dinheiro público.
* Professor Engenheiro Civil, M. Sc. – Especialista em Transportes e em Pontes e Grandes Estruturas pela UFRGS. Publicado News Log em 02/09/2011 e no Caderno de Logística do Jornal do Comércio em 15/09/2011.
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