De uma forma bastante descontraída, Rodrigo de Oliveira, vice-presidente do PT-POA, conversou conosco nesta última segunda-feira (26/04). Ele falou da perda de espaço que a sigla vem tendo na mídia local e ressaltou a importância da legenda em trabalhar com propriedade a questão da saúde, do planejamento da cidade e da mobilidade urbana.
Rodrigo se aproximou do PT pelo movimento estudantil, ainda na década de 90. Ele conta que em 1994 começou a participar dos debates políticos, e em 1996 decidiu se filiar ao partido. Aos 24 anos, entrou na direção estadual da sigla, como vogal. Mais tarde, assumiu a Secretaria de Comunicação do PT-POA, na gestão do então presidente Marcelo Daneris. Hoje, casado e pai de primeira viagem, divide seu tempo entre a vice-presidência do PT-POA, o filho de 4 meses, e a coordenação do gabinete da deputada Maria do Rosário.
Confira a entrevista na íntegra.
Asscom PT-POA - Como é ser vice-presidente do PT-POA?
Rodrigo - É uma coisa meio complicada. Tu não tens uma função específica. Pode fazer de tudo um pouco ou de um pouco nada. Mas quando eu assumi, me comprometi a fazer duas coisas: dedicar-me à Formação Política e à atividade de reativação dos Núcleos e Zonais do partido.
Asscom PT-POA - Na sua avaliação, qual a contribuição que o PT-POA pode dar à cidade neste momento?
Rodrigo - Acho que a maior contribuição que nós podemos dar, enquanto partido político - ao lado das questões organizativas , que não são menores - é voltar a ocupar os espaços públicos de debate. O PT, por algum motivo, perdeu espaço nas discussões. Sabemos que há um preconceito por parte da mídia, mas antes participávamos mais. Éramos chamados com maior freqüência. Acho que o Adeli Sell pode fazer isto, na condição de presidente do PT-POA. Eu me proponho a participar quando ele não puder. Mas temos que voltar a passar a pauta política que o partido tem para a mídia e para a sociedade.
Asscom PT-POA - De que forma poderíamos recuperar esse espaço na mídia?
Rodrigo - Fazendo visitas e avisando que queremos debater. Devemos propor pautas, como por exemplo, o debate envolvendo o Ciro Gomes, ou sobre as últimas pesquisas, ou até mesmo largando um dado sobre a questão do emprego no Rio Grande do Sul e no Brasil. É difícil conseguir se inserir neste espaço, por que a mídia gosta da política como espetáculo.
Asscom PT-POA - Como você vê esse novo período do PT aqui em Porto Alegre?
Rodrigo - A atual gestão está conseguindo movimentar, sacudir o partido. Sacudir no sentido de organização, de se encontrar com os seus militantes, levantar a poeira. Estamos saindo de um momento de transição, em que o PT teve dificuldade de se encontrar enquanto oposição na cidade, e acho que esta gestão esta construindo uma opinião de se identificar com um partido que antes tinha sido 16 anos governo e agora está tendo a capacidade de perceber que tem uma visão crítica sobre a atual gestão. O maior símbolo disto é o boletim informativo do PT, que conseguimos colocar pela 2ª vez no ano nas ruas de Porto Alegre. Estamos conseguindo apresentar para a população uma opinião crítica dos fatos. Falo não da crítica por si só, mas de uma crítica na qual também apontamos alternativas.
Asscom PT-POA - Quais seriam essas alternativas?
Rodrigo - Uma já vem sendo construída há algum tempo, que é a questão do Plano Diretor de Porto Alegre, que preserve a cidade, mas que também privilegie o desenvolvimento com sustentabilidade. Um segundo ponto diz respeito à área da saúde. Estamos propondo outra relação na área da saúde em Porto Alegre. Primeiro de passar a vassoura no que tem de errado, para construirmos uma política mais solidária, especialmente sobre a oportunidade de financiamento neste setor. E um terceiro elemento, que o partido faz, a bancada federal do partido faz, e o próprio companheiro Marco Arildo, presidente da Trensurb faz, que é a questão de mobilidade urbana. A Cidade está parada, não há nenhuma nova iniciativa na área de mobilidade urbana. Temos que denunciar os Portais, pois eles não sairão do papel. Não há condições técnicas. Trata-se de uma solução do passado, de 30 anos atrás. Precisamos de uma alternativa como, por exemplo, o metrô, que o governo federal apresentou no PAC 2, Precisamos ter uma iniciativa política da prefeitura de dizer não aos Portais e de investir no metrô. Eu espero que o Fortunati tenha essa coragem. Fica claro para mim que o PT, aos olhos da população, tem que se apresentar como o partido que faz a crítica, mas que apresenta as alternativas, principalmente nestes 3 temas: saúde, que é a área mais sensível, no planejamento da cidade, sob o ponto de vista ambiental do desenvolvimento, e da mobilidade urbana, já que temos um projeto.
Asscom PT-POA - Qual seria o grande desafio do PT para este ano?
Rodrigo - É organizar a campanha da Dilma e do Tarso. Acho que estamos nos organizando bem para isto e é preciso destacar que o PT de Porto Alegre assumiu para si a tarefa de organizar regionalmente a campanha do Tarso. Vamos chamar uma reunião metropolitana do partido para tratar da campanha.
Asscom PT-POA - Você está confiante nas eleições?
Rodrigo - Dilma tem plenas condições. O Serra está com um discurso de que dará continuidade para as boas ações do governo Lula. Está adotando o mesmo discurso do Fogaça aqui em Porto Alegre, que fica com o que está bom e muda o que está ruim. A gente sabe que eles não têm história que permitam dizer que eles vão continuar o que a gente está fazendo. A história deles é radicalmente oposta, por isso julgo como positivo, como viável. Aqui no Estado o quadro é mais complexo, por que temos uma candidatura mais multipolar. Teremos a candidatura do Lara, que tem algum fôlego, e da Yeda, mas sabemos que a grande disputa se dará entre Tarso e Fogaça. Temos condições enquanto projeto petista de chegar à frente no primeiro turno e ampliar com uma aliança popular para vencer as eleições. Temos boas chances. Cabe a nós apresentar um bom projeto de desenvolvimento do Estado e conseguir identificar para as pessoas a gestão do Fogaça aqui em Porto Alegre.
Asscom PT-POA - Para finalizar, gostaria que você falasse sobre o evento com o Emir Sader...
Rodrigo - Vamos lançar o livro "Brasil entre o passado e o futuro", organizado por ele e pelo Marco Aurélio Garcia. O livro faz um balanço entre os 8 anos do Fernando Henrique e os 8 anos do governo Lula. Ele coloca lado a lado concepções diferentes de projeto de nação. Se o Serra diz que há uma continuidade, eu diria que há uma ruptura muito grande entre Lula e FHC. Um exemplo disto é o tratamento dado às crises econômico-financeiras. O Brasil quebrou duas vezes durante o governo FHC, e nas duas vezes ele recorreu ao FMI, nas duas vezes ele aumentou os juros, cortou os investimento públicos e diminuiu o papel do Estado nas decisões da economia. O Lula fez exatamente o contrário. Ele sanou as finanças do ponto de vista dos credores internacionais, fortaleceu o mercado interno, reduziu os juros para aquecer a economia e deu capacidade de consumo às classes menos favorecidas. Alavancou a economia, uma prova disto é que sentimos muito pouco a crise internacional. Então são modelos diferentes e o livro do Emir Sader ajuda a recuperar isto. É um instrumento fantástico para discutir as eleições deste ano do ponto de vista reflexivo. Será a primeira eleição onde o Brasil poderá finalmente discutir o seu futuro. Nas últimas eleições presidenciais discutimos quanto deveria ser o valor do salário mínimo, discutíamos o emprego, ou seja, as urgências e as necessidades. Hoje, como a casa está em ordem, vamos poder discutir projeto de futuro, de País que caminha para ser a 5º economia mundial. Sai de uma condição periférica, para ser uma posição de ator da governança mundial. E nós temos que entrar na eleição com este pensamento. E o lançamento do livro do Emir será muito importante para discutir esta dimensão.
O que: Lançamento do livro:
"Brasil entre o passado e o futuro", de Emir Sader* e Marco Aurélio Garcia**
Quando: 8 de maio
Hora: 10 horas
Onde: Paróquia Nossa Sra. da Pompéia (Rua Dr. Barros Cassal, 220)
*Historiador e Cientista Político. Pensador de orientação marxista, Sader colabora com publicações nacionais e estrangeiras e é membro do conselho editorial do periódico inglês New Left Review. Presidiu a Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS, 1997-1999) e é um dos organizadores do Fórum Social Mundial.
** É professor licenciado do Departamento de História da Unicamp, idealista de esquerda e atualmente ocupa o cargo de assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais.
Por Tatiana Feldens /Asscom PT-POA
Texto originalmente publicado no site do PT-POA
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