Caminhar por Porto Alegre, como em quase todas as cidades brasileiras, é um desafio. As calçadas são esburacadas e estreitas, as sinaleiras de controle do trânsito não funcionam ou, quando funcionam, demoram uma eternidade para “abrir” para o caminhante. As faixas de pedestres são mal localizadas, forçando os motoristas que se dispõem a respeitar os pedestres a congestionar o trânsito de veículos, pois muitas delas foram colocadas na saída de avenidas e de ruas com trânsito intenso. Os pontos de ônibus são desconfortáveis e, mesmo quando estão localizados nos corredores específicos, têm acessos e saídas que colocam os usuários sob-risco de atropelamento; as “ilhas” de pedestres são estreitas e mal iluminadas.
O excesso de carros particulares nas ruas impede o livre fluxo dos veículos, atravancando o trânsito. Dezenas e, às vezes, centenas de quilômetros de congestionamentos são registrados diariamente. Em Porto Alegre, consome-se, hoje, cerca de 40 a 50 minutos para se percorrer, nos horários de pico nas áreas mais movimentadas da cidade, meros 10 km. Uma velocidade que é semelhante a das carroças de tração animal e que não é muito superior a que é desenvolvida pelos pedestres. Milhares de automóveis particulares são estacionados ao longo das vias públicas, que já são estreitas, tornando-as quase intransitáveis.
Em matéria publicada na terça-feira (19) pelo Sul21, relatando sua palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento, o urbanista do urbanista e ex-prefeito de Bogotá (Colômbia) Enrique Peñalosa defende a necessidade de se tomar decisões políticas para alterar a concepção de trânsito e de circulação de pessoas e veículos nas cidades contemporâneas. Construir amplas avenidas, viadutos e elevados, como se acreditou durante anos, não é a solução que se deve adotar para resolver o problema dos transportes e da locomoção urbana. Quanto mais se fizerem obras como estas, mais se incentivará o uso dos carros de passeio, mais se congestionará as vias e mais se poluirá o meio ambiente.
Segundo Peñalosa, é preciso mudar o foco dos transportes urbanos e a concepção de urbanismo e de desenvolvimento. É hora de se adotarem políticas de controle e de desincentivo do uso dos carros de passeio. É preciso proibir o estacionamento de carros nas vias públicas (principalmente nas mais movimentadas) e, inclusive, impedir a sua circulação em setores das cidades, principalmente nas suas áreas centrais, que é para onde converge a maioria dos moradores em suas atividades profissionais e sociais.
O uso dos transportes coletivos precisa ser incentivado. Ainda que Peñalosa critique a construção de metrôs subterrâneos, por seus altos custos e por “enterrarem” seus usuários, eles são uma opção que não devem ser descartadas à priori, uma vez que são menos poluentes do que os veículos que consomem combustíveis fósseis e também porque possibilitam transporte rápido e seguro de grande número de pessoas em muito pouco tempo.
As vias públicas hoje existentes precisam ser destinadas prioritariamente para a circulação de ônibus urbanos e de táxis. Ciclovias seguras devem ser construídas e implantados sistemas de aluguel e/ou de uso comunitário de bicicletas. Em Porto Alegre, se fosse acatada a sugestão de se construir uma ciclovia margeando o Guaíba, teríamos uma ligação rápida, barata e não poluente, entre as zonas Sul e Norte da cidade e também do seu centro histórico. Além de bonita, saudável e antipoluente, a medida retiraria grande número de veículos das ruas da cidade e desafogaria o trânsito, principalmente na sua área central.
As pessoas continuarão utilizando carros particulares, no entanto, pois se construiu, ao longo dos últimos 60 anos no Brasil e por mais de 100 anos no mundo, a cultura do automóvel. Ele foi utilizado como impulsionador da industrialização e das inovações tecnológicas e, hoje, no Brasil, está sendo utilizado como meio de promoção do consumo e como forma de impedir que os efeitos da crise econômica mundial se abatam mais fortemente sobre o país.
Com o crescimento da renda dos segmentos sociais historicamente alijados do consumo no Brasil, aumentou também o desejo destes indivíduos possuem, finalmente, seus próprios automóveis. Não serão acatadas, portanto, neste momento, campanhas de desincentivo à posse e ao uso dos carros particulares, nem serão implementadas políticas governamentais que visem a diminuição da produção e venda de veículos automotores.
Nada impede, entretanto, que as Prefeituras Municipais adotem medidas de incentivo ao uso dos transportes públicos e dos veículos individuais não poluentes, como as bicicletas. Em época de pré-campanha eleitoral em todos os municípios do país, seria interessante que a sociedade civil se organizasse para cobrar dos candidatos o compromisso com este tipo de política. Seria aconselhável, inclusive, que os próprios candidatos, em busca de votos, incluíssem o compromisso de adotar, se eleitos, medidas que dificultem o acesso dos carros ao centro das cidades e, ao mesmo tempo, que incentivem o uso dos veículos coletivos e das bicicletas.
Em época da Rio + 20 e do avanço das preocupações ecológicas e com a sustentabilidade, é preciso ousar. É preciso, como no velho refrão, pensar globalmente e agir localmente. Se ficarmos esperando que as soluções venham dos dirigentes mundiais e das grandes empresas internacionais, talvez se esgote o tempo e se extingam as condições para melhorar a qualidade de vida em nossas próprias cidades e, até mesmo, para salvar o planeta. José Fortunati, Manuela D´Ávila e Adão Villaverde, os candidatos já postos à Prefeitura de Porto Alegre, poderiam dar o exemplo, apresentando propostas e assumindo o compromisso de revisar radicalmente a política de transporte urbano adotada hoje na cidade, caso um deles venha a ser eleito.
Sul 21
Um comentário:
É isso mesmo. Nós que andamos de bicicleta temos que revindicar mais cíclovias em Porto Alegre. Em época de campanha temos que nos unir e precionar os concorrentes a prefeitura.
Um abraço
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