quarta-feira, 6 de junho de 2012

Na terra do futebol arte, seremos 190 milhões em ação

Lembro-me do campeonato de 70, com aquela famigerada música dos milicos "Noventa Milhões em Ação, Pra Frente Brasil, Do Meu Coração!”... Naquela época, ainda distante da Capital gaúcha, (sou natural do oeste catarinense) não tinha ideia da ideologização do futebol e do controle da ditadura sobre as pessoas. Até porque minha família não era politizada.

Passadas algumas décadas, mais uma vez me deparo com uma Copa do Mundo. Creio que me politizei, já sei o que está em jogo e quais são os interesses econômicos que circundam este meio. Infelizmente o futebol deixou de ser arte. Não apenas por causa dos péssimos exemplos que temos hoje, como o do Ronaldinho Gaúcho e de outros de sua espécie. Mas porque agora o sujeito não joga mais por amor ao time. Tudo gira em torno do dinheiro.

Mas não sou estudioso de futebol e talvez você tenha razão se achar que nada entendo de futebol. Mas posso garantir que dos interesses de nossa cidade, do seu povo, eu entendo. Entendo que a Copa será legal se deixará um bom legado para nós e nosso futuro. Ela modificará Porto Alegre. Até o antigo Eucaliptos foi vendido e vai virar condomínio; o Beira Rio não reinará sozinho ali na Orla, edifícios brotarão em seu entorno.

O Olímpico vai sumir e 19 novas torres de edifícios vão surgir. E vamos ter que voltar a falar nas trincheiras por debaixo da Carlos Barbosa, para sair pela Goiás e pela Mato Grosso para usar a Florianópolis que será a rota ao Centro, porque fará binário com a Azenha - que terá mão única Centro/Bairro. Duvidam? Eu aposto que será assim. Não tem alternativa. E ali na entrada da cidade a Arena começa já a ser vistosa.

Mas como ficarão as obras de infraestrutura? Algumas estão saindo, outras estão a caminho. Mas há algumas que não virão a tempo. Como o metrô, que poderia ter vindo até bem perto do Beira Rio para depois seguir pela Bento Gonçalves rumo ao Campus da UFRGS. Os governos foram incompetentes para tal. Mas com nossa pressão sairá até a Fiergs, mas isto só para depois da Copa.

E a gente só queria calçadas bem cuidadas, e os que não as arrumarem poderiam ser multados e quem sabe assim pensariam nos cadeirantes, deficientes visuais e idosos. E os turistas iriam agradecer e compartilhar com os outros suas experiências em Porto Alegre. Isso nos renderia novas visitas. Mas muito mais falariam se viessem somadas as ciclovias e ciclofaixas. Mas estas estão virando piada na cidade, como é o caso da mais curta do mundo, aquela que liga “nada a lugar algum” na Ipiranga.

Mas já seria uma boa se os próximos ônibus fossem biarticlados, com piso baixo, com acessibilidade e com ar condicionado. Quero as Lotações Transversais também. Se as coisas fossem assim, eu acho que teríamos um milhão e meio de porto-alegrenses em ação. Atingindo, por que não, os 10 milhões de gaúchos também.

E como agirão os outros 180 milhões de brasileiros? Acho que pela paixão todos vão torcer pela seleção, mesmo com um nó na garganta. Mas seus gritos seriam mais audíveis se o Brasil conseguisse fazer o que deve fazer: obras eficientes que contemplem nossas necessidades atuais e futuras, não é?

Eu não gostaria de rever aquela euforia sem sabedoria de 1970. Eu não gostaria de ver agora 190 milhões berrando como se tudo estivesse bem, se os estádios forem feitos na base da corrupção, como sabemos que pode acontecer neste país.

Eu gostaria de ver euforia, sim, por um futebol arte de um lado e de obras que fossem boas para mim e para os demais brasileiros. Eu quero ver desde já o Brasil em ação, acreditando que muitas benfeitorias ficarão em benefício das populações das cidades-sedes. Afinal, transporte coletivo, rede hoteleira, comunicações, aeroportos, hospitais e toda a infraestrutura de suporte ao maior evento esportivo mundial não serão desfeitos após o apito final em que se saberá quem será o novo campeão mundial.

Sou mais um dos que está preocupado e estarei em ação com nossos 190 milhões de brasileiros lutando para que o Brasil consiga dar a volta por cima, recuperar o tempo perdido e fazer as obras que tiverem que ser feitas, com gestões honestas e transparentes.

Adeli Sell é vereador e presidente do PT em Porto Alegre

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