Adeli Sell é vereador e presidente do PT de Porto Alegre
Originalmente publicado no Sul 21
Os moradores de Porto Alegre que 80 anos atrás estiveram na inauguração do majestoso Viaduto Otávio Rocha jamais poderiam imaginar o seu estado atual de degradação. O cartão postal da cidade está absolutamente degradado, com expressivas infiltrações, pichações, mofo, péssimas condições de higiene, calçamento e iluminação deteriorados. Chegamos ao limite. Qualquer avanço na deteriorização seria intolerável.
Desde sua construção o Viaduto Otávio Rocha é um importante ponto de referência de Porto Alegre. Possui uma estrutura de concreto armado, com três vãos e quatro rampas de acesso para pedestres. Na parte central, há dois pórticos transversais onde estão localizados dois grandes nichos, nos quais foram colocados dois grupos ornamentais. Todo o revestimento foi feito em reboco de pó de granito, de cor cinza, dando um aspecto de pedra aparelhada.
Não há dúvidas de que o Viaduto é marca arquitetônica e cultural de Porto Alegre e, na medida em que traz consigo parte da história da cidade, não deixa dúvidas de que é englobado pelo conceito de patrimônio histórico e cultural. É certo e inarredável o dever do Município na preservação do Viaduto.
Pouco mais de uma década depois de um arranjo pontual feito pela gestão do meu partido (que resolveu alguns pontos de infiltração e sujeira), agora fica visível que o problema é mais sério do que se imaginava. A situação de degradação vai além da estrutura. A pichação realizada de ponta a ponta, os moradores de rua – que não apenas se abrigam ali, mas atacam as pessoas e anarquizam a região – e a drogadição do local completam o cenário de abandono deste tradicional espaço da cidade.
A insegurança, por incrível que pareça, já foi bem pior. No entanto, os avanços que tivemos não conseguiram reverter o quadro de decrepitude do Viaduto. E isto contradita com as melhorias no entorno da Praça Daltro Filho, ainda em processo de recuperação, com seus sábados de manhã de feirinha, além da feira de antiquários na Marechal Floriano. O que se salva ali é as duas bancas de frutas que temos em cada lado da Borges de Medeiros, dando presença e vida a qualquer hora do dia. Mas o próprio comércio do Viaduto não condiz com os dias atuais. Afirmo isso porque vivi de um pujante comércio de livros, revistas e gibis usados ali por 16 anos.
Além de sua arquitetura exuberante, o Viaduto Otávio Rocha possui lojas comerciais de diversas atividades, como lancherias, artesanato, disco-fitas, serviços de fotocópias, bem como entidades representativas, como a Casa do Poeta do Rio Grande do Sul e a Associação de Moradores e da Etiqueta Popular. Também no Viaduto estão localizados alguns dos focos de resistência à Ditadura Militar: A ARI – Associação Riograndense de Imprensa e o histórico Teatro de Arena, além dos Hotéis Everest e Savoy.
Por concentrar tamanha representatividade, o poder público deveria garantir a Guarda Municipal para combater o vandalismo e a insegurança nesta região. A gestão sairia vitoriosa, pois diminuiria o seu gasto com a reposição de lâmpadas; os guardas garantiriam a segurança e poderiam ser “guias informais de turismo”. Também poderia buscar suporte no Sebrae e reciclar o comércio local, propondo novas soluções e outras operações. Pasmem, mas ainda tem copiadora de xerox como atividade principal numa das lojas.
Propus ao prefeito passado, em reunião no Paço Municipal, usar aquelas salas fechadas das escadas para um SAT – Serviço de Atenção ao Turista – junto com um SAC – Serviço de Atenção ao Cidadão, onde on line e com um funcionário e estagiários, poder-se-ia acessar serviços, como o 156 da Prefeitura.
Minha proposta prevê, inclusive, dois espaços de cada lado, fora da Área Azul, para estacionar 15 minutos, com o objetivo de acessar estes serviços. Implementando estas iniciativas já teríamos uma nova dinâmica para este pequeno trecho, espaço bacana, com uma das obras de arte mais monumentais de nossa cidade.
Também não poderíamos pensar em melhorias para o Viaduto sem pensar em revitalizar o Teatro de Arena, que fica nas imediações do Viaduto. Poderíamos buscar parceira com os hoteis Savoy e Everest, em troca de contrapartidas e realizações de novas atividades turísticas. Pois onde não há circulação de pessoas, quando não existem atividades diferenciadas, que incentive o convívio entre as pessoas, perdemos a vida do local, como já previa, há 50 anos, a grande urbanista Jane Jacobs ao propagar a vida e a morte das grandes cidades.
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