Nos dias que correm, uma das grandes preocupações das pessoas é, sem dúvida, o problema da segurança urbana. Muitos acreditam que um posto policial por si só é garantia de uma vida mais tranquila. Ledo engano. É certo que a insegurança aumentou em nossas cidades, mas não apenas pelo crescimento do consumo de drogas, como o crack, uma das calamidades mais alarmantes, ou pela desigualdade social e econômica. A violência urbana cresceu especialmente em decorrência da péssima arquitetura das grandes cidades, das calçadas mal conservadas e do urbanismo equivocado.
Questões estas que os governantes e os empreendedores fazem questão de não discutir. Sabem que este modelo exclui de todas as formas. Quanto mais carros, avenidas amplas e edifícios altos, mais lados sombrios e iluminação inadequada, logo uma cidade menos segura.
Não é de hoje que estudiosos do urbano, especialmente arquitetos, vem se debruçando sobre o assunto e dando contribuições valiosas para o seu enfrentamento. Por isso, é interessante explorar quais fatores espaciais podem contribuir para diminuir a violência.
Jane Jacob já defendia décadas atrás a presença de desconhecidos como importante. Ela também acreditava que a manutenção da segurança não é feita apenas pela polícia, mas pela rede intrincada de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados. Ou seja, espaços onde o morador é o olheiro e o comerciante conhece as pessoas do entorno são um atestado de que ali fica mais difícil um meliante aprontar alguma ou um abusador atacar uma estudante na calada da noite.
Cidades com calçadas amplas também desempenham papel fundamental para a manutenção da segurança. Explico por que. As próprias pessoas que usam e transitam pela rua acabam exercendo uma vigilância natural. Ruas desertas dificilmente atrairão a atenção de quem está dentro das edificações, o que acaba acentuando a sensação de insegurança. Vou além. Calçada mal cuidada não só atrapalha quem caminha, mas impede o sujeito de olhar a vitrine, apreciar uma bela arquitetura ou cumprimentar alguém no café. Um passeio público descuidado faz com que as pequenas distâncias, como uma ida à padaria ou à farmácia, sejam percorridas de carro, e não mais a pé como antigamente. Observe, reflita, isto acontece.
Esquinas com obstáculos tipo "fradinhos" para carros não subirem na calçada são o maior absurdo, atrapalham, tiram a atenção das pessoas, dificultam a vida dos idosos e cadeirantes. Um banco de praça quebrado, sujo, sem pintura é mais um elemento para a insegurança, porque as pessoas não sentarão ali para conversar, tomar mate, viver a vida.
Mas a insegurança se dá com um discurso e atitudes que clamam por segurança. Nossos planos diretores de 59 e 79 segmentaram Porto Alegre. Com o discurso da modernidade a la Niemeyer e Lúcio Costa, que seguiam Le Corbosier, dividiram a cidade em espaços residenciais, comerciais e industriais. O certo seriam cidades miscigenadas, com comércio e pequenas praças, para que estes locais possam ser acessados a pé ou de bicicleta. Cidade onde poucos caminham ou pedalam são inseguras.
Assim como na Idade Média, quando se construía as muralhas ao redor das fortalezas para se proteger do inimigo, na atualidade construímos gigantescos paredões que nos isolam da rua - que acaba sendo propriedade de ninguém e, desta forma, marginais e violentas. Por outro lado, quando permitimos a abertura das janelas das nossas casas à cidade estamos compartilhando o espaço com toda a sociedade, deixando o isolamento e enfrentando em parceria os bons e maus momentos.
Por isso, estou certo que arquitetura e urbanismo adequados podem minimizar o problema da insegurança pública ao intensificar a vivência urbana, diminuir a segregação espacial e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Por Adeli Sell
Vereador de Porto Alegre por 16 anos
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