O Seminário “Mídia Livre x Mídia Corporativa: nas Entrelinhas da Comunicação” foi um verdadeiro sucesso de público, tanto presencial quanto virtual. Transmitido ao vivo pela Rádio Web Putzgrila, o debate realizado ontem à noite (22/06) na Assembleia Legislativa, contou com a audiência de mais de 2,5 mil internautas, atingindo além de outros estados - como Paraná, São Paulo e Minas Gerais - países como Estados Unidos e México.
Organizado pela Secretaria de Formação Política do PT-POA, o evento teve como objetivo discutir os rumos da imprensa no Rio Grande do Sul e no Brasil. Elmar Bones, do Jornal JÁ, Marco Aurélio Weissheimer, do Blog RS Urgente, e Maria Helena Weber, Profª. Dra. da Faculdade de Comunicação da UFRGS trouxeram importantes contribuições para a análise do tema. A mediação ficou a cargo de Cláudia Cardoso, do Blog Dialógico.
Cláudia abriu os trabalhos ressaltando que estamos vivendo um período importante em matéria de acesso à informação. Em função das novas tecnologias, avalia, é possível buscar outros mecanismos de conhecimento. “Há uma proliferação do próprio público, que antes apenas recebia a informação, agora está criando suas próprias mídias populares e produzindo conteúdo também”, disse ela.
“Mídia se encaminha para outra derrota ao não querer reconhecer crescimento da Dilma"
Elmar Bones falou das derrotas que a grande mídia tem sofrido ao tentar coagir a opinião pública. Citou como exemplo a campanha que fizeram contra o governo Lula na questão do mensalão. “A intenção da mídia era derrubar o governo, desmoralizar. Mas o fato é que Lula saiu praticamente ileso, tanto que se reelegeu em seguida”, afirmou.
O jornalista acredita que isso tenha acontecido por duas razões: pelas características pessoais do presidente Lula e pela ajuda dos movimentos sociais. “Esse apoio que teve dos movimentos sociais o blindou contra a farsa da mídia”, disse Elmar, prevendo nova derrota com a candidatura de Dilma Rousseff.
“Desde o início se posicionaram contra. É um questionamento ‘anti’, que objetiva desgastar. Não vejo o debate das ideias”, analisou. Para ele, a mídia não consegue sequer reconhecer o que as pesquisas estão mostrando: “Dilma subindo e Serra caindo”.
Ao analisar o cenário estadual, Elmar lembrou da cobertura feita com relação ao projeto de lei que prevê a venda do terreno da Fase. “Trata-se de outra derrota”, afirmou. A imprensa sempre tratou o assunto como se fosse uma reformulação da Fase.
“A Zero Hora fez praticamente uma campanha pela venda do terreno. Mas a reação aconteceu: tanto pelos moradores do terreno, quanto pela campanha organizada na Internet. Ou seja, mesmo a mídia mantendo a defesa o projeto naufragou. Este é mais um exemplo concreto da situação que vivemos. Esses grupos ainda são hegemônicos, mas estão sofrendo um desgaste muito grande”.
Para o diretor da JÁ Editores, responsável pela publicação do jornal JA Bom Fim/Moinhos e pela Revista JÁ, a mídia não vai mudar se não surgirem alternativas concretas que as façam perder audiência e levem a mudar seus próprios métodos.
“A mudança que precisa acontecer na comunicação é muito profunda: falo de método de trabalho, de organização, de relação dos trabalhadores. Isso só vai acontecer se nós tivermos fora das grandes empresas experiências de comunicação que tragam novos caminhos”, finalizou.
Jornalismo cidadão
“É hora de a gente abandonar esse conceito de mídia alternativa, que esta muito ligado à ditadura militar”. Foi com esta frase que Weissheimer iniciou sua intervenção. De acordo com ele o que se vê hoje é o surgimento de um “jornalismo cidadão”, onde blogueiros e twitteiros fazem comunicação de qualidade diariamente.
Responsável pelo blog RS Urgente, Marco endossou os comentários feitos anteriormente por Elmar Bones sobre a cobertura envolvendo o terreno da Fase. Ele recordou a forma como o movimento de blogueiros se engajou na campanha pelo veto ao projeto, trazendo ao debate a informação de que a área do terreno representava a metade do Morro Santa Tereza.
“Quando surgiu esta informação o debate mudou, porque não se tratava mais de qualquer terreno. Isso representou uma guinada na disputa política e simbólica”, avaliou, acrescentando que esse tipo de experiência já é uma realidade no Rio Grande do Sul. “Do ponto de vista midiático, não custou um centavo essa informação. Nossa mobilização municiou toda uma luta, agregou valor político ao debate e provou que não se trata mais de uma intervenção alternativa. É um espaço consolidado”.
Segundo o jornalista, "blogueiros não são mais átomos isolados. Trata-se de um grupo construindo um futuro coletivamente. Uma força midiática e política concreta”. Outro exemplo recente da força midiática através das redes sociais, segundo Marco, diz respeito à campanha organizada contra o narrador da Rede Globo Galvão Bueno no twitter.
Embora o otimismo, Marco não acredita no fim da mídia corporativa. “Nosso desafio daqui em diante é - além de denunciar - produzir informação de qualidade e de interesse público. O caso da Fase é um exemplo disto”.
Dispersão da informação
O embasamento teórico da discussão ficou para o final, com a intervenção de Maria Helena Weber, Profª. Dra. da Faculdade de Comunicação da UFRGS. Ela falou da preocupação que tem com a dispersão da informação, que hoje é individualizada.
Questionou, também, as estruturas de comunicação dos 3 poderes - legislativo, judiciário e executivo -, que, de acordo com Maria Helena, são imensas e geraram um conceito chamado mídia das fontes, onde o jornalista ao invés de questionar, se abastece dessas informações. “Idéia de um grande leviatã, onde o Estado poderoso é que tem a capacidade de interagir com o cidadão”.
Ela finalizou afirmando não ser tão otimista com o futuro da imprensa. De acordo com a professora, “a grande mídia está refazendo o seu modo de se comunicar e por isto está enfrentando um grande embate e está sendo obrigada a seguir este grande processo”.
Por Tatiana Feldens – Asscom PT-POA
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