segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O PT, Ricardo Silvestrin e a Angústia do Emissor

Por Ana Carolina Martins da Silva *
* Profa. Da UERGS – Mestre em Comunicação Social e ambientalista

palavra não é coisa
que se diga
quem toma a palavra
pela coisa
diz palavra com palavra
mas não diz coisa com coisa
a palavra pesada
a coisa, leve
e vice-versa não é coisa alguma
a palavra coisa
não é a coisa da palavra
palavra e coisa
jamais serão a mesma coisa
Ricardo Silvestrin (http://www.germinaliteratura.com.br/rsilvestrin.htm)

Nestes dias 8 e 9 de outubro, o Partido dos Trabalhadores realizou um Encontro de Formação e Preparação Eleitoral envolvendo sua militância, pré-candidatos e dirigentes para as eleições de 2012. Promovido pelo Grupo de Trabalho Eleitoral e pelo Coletivo de Formação Política do partido, o Encontro envolveu representações de 81 cidades, que tornaram a Assembleia Legislativa um verdadeiro planetário com suas estrelas vermelhas, amarelas e brancas. A programação incluiu Tática Eleitoral, Política de Alianças, Planejamento de Campanha, Comunicação, Pesquisa e Legislação Eleitoral.

Esse era o conteúdo específico, entretanto, o que se viu foi um enlaçamento programático e afetivo em torno de objetivos comuns, em torno de uma nova ética de propaganda política, de identidade partidária e de candidato. Na mesa de abertura, Tarso Genro, sem gravata e sem pompas, com postura de companheiro, e não de governador, falou mais do que sobre conjuntura, sobre política de alianças. Falou sobre como se constrói um coletivo dentro e com a diferença. Semeou mais a harmonia, do que a discórdia. Com um raciocínio cirúrgico, fez um passeio sobre a conjuntura internacional, nacional, estadual, mostrando a importância de cada pequeno passo na construção de um mundo melhor, um mundo de soluções construídas e inclusivas. Nesse espírito, sobre a questão da disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, disse o companheiro: “o PT deve ter com um nome que tenha capacidade de disputar as eleições da capital, mas deve ouvir os partidos do nosso campo de alianças para definir uma estratégia para Porto Alegre”.

Esse espírito de construção perpassou o debate do sábado, bem como se consolidou no domingo pela manhã. Com a centralidade na Mídia e na comunicação, Tarson Nuñez, João Ferrer, Alfredo Fedrizzi, Ricardo Silvestrin, Marcelo Antunes e Vera Spolidoro, em diferentes ângulos do tema, tentaram responder a pergunta que inquietava a todos e à todas: “por que alguém votaria em você?” Também nesse momento, vimos falas que contrariaram a imagem de que todo o político deve ser um camaleão para ganhar eleição.

Expressões como: seja verdadeiro, procure consultar as comunidades, reúna-se com as pessoas, dê sua opinião, honre sua trajetória, mostre sua diferença, dedique-se a uma causa que pode abarcar, seja sincero, siga o programa do partido, faça alianças com quem tem afinidade programática com aquilo que você acredita, respeite o adversário, ouça o que as pessoas estão lhe dizendo, observe o cenário, tenha uma equipe de trabalho, não seja sozinho, seja no coletivo; Foram ouvidas com as mais diferentes roupagens e com a indicação de uso dos mais variados veículos para isso, tais como rádio, TV, internet e suas redes, panfletos, jornais, dentre outros. Guardadas as devidas proporções vocabulares, a manhã do domingo resgatou uma máxima conhecida e publicizada por Chacrinha: Quem não se comunica, se estrumbica!”

Fantástico. Um Encontro fantástico. De minha parte, como não sou candidata, vidrei na fala extraordinária de Ricardo Silvestrin, quando abordou “A mensagem – como se elabora o discurso e para que serve um slogan…”. Sua preocupação em localizar a palavra certa, suas reflexões sobre o cuidado fundamental “de ouvir o que as pessoas querem, o que as pessoas não querem e o que as pessoas nem sabem que querem” foi mais do que uma reflexão sobre política. Foi uma reflexão sobre relacionamento, sobre percepção do outro. Marcou-me ainda uma fala sua, quando disse que não há necessidade de sobrecarregar a mensagem com tudo o que se quer dizer, que isso na verdade reflete algo que ele chama de “Angústia de Emissor.”

Eu me enquadrei totalmente e vi que por isso meus textos são longos! Essa necessidade de dizer tudo o que estou pensando configurada numa Angústia pareceu-me a metáfora de minha forma de escrever. Uma vez escrevi um poema chamado “Angústia”, que abri ingenuamente assim: A Angústia é um morro/ que a gente sobe/ e nunca chega. Eu não quero essa angústia. Quero as palavras exatas agora, então concluo, rememorando todo o curso, todas as falas, todas as intenções do PT para as próximas eleições, como entendi: identidade, esperança e transformação.

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