Jorge Hori, consultor do sindicato das empresas de engenharia consultiva, esteve em Porto Alegre no final de junho e deu uma pista do que pode acontecer nos próximos tres anos no Brasil. “A Copa das Confederações, que se realizará no ano de 2013 no Brasil pode ser um grande evento, mas, não atrairá turistas, e sim, jornalistas. TVs, rádios, jornais e internet do mundo inteiro cobrirão suas seleções e dirão o que virem, pois comunicadores não teem compromisso com o marketing ou com o destino, e sim, com a notícia”.
Se projetarmos esta afirmação para o Rio Grande do Sul, a ameaça é ainda maior. Em 2012 está prevista a realização de uma corrida de carros, em 2013 haverá um torneio de masters com mais de 5 mil atletas com mais de 50 anos de idade e ainda está prevista uma etapa da copa das confederações na cidade. Os tres eventos jogarão luzes sobre a imagem da cidade e ela poderá estar transformada em um canteiro de obras, refletindo imagens que espantem algum turista pouco aventureiro ou pouco corajoso de enfrentar o incerto em um futuro tão próximo para ele em um lugar que ele pode achar tão distante, afinal, soa estranho nas TVs a afirmação de que estamos perto do “fim do mundo”
Reza a tradição que deixamos tudo para a última hora, ou achamos um jeito de adiar mais um pouquinho. Ou ainda “fingimos que fazemos e os outros, por bondade ou beocidade, fingem que veem o que gente não faz”. Assim, de improviso em improviso, de jeitinho em jeitinho, vamos ficando ao longo do caminho e perdendo os outros atores do processo do alcance de nossas vistas.
Se aplicarmos esta imagética para a cidade de Porto Alegre e os “problemas & soluções” que se acredita existir hoje e que se prevê que venham a existir em um futuro próximo e delimitado ao ano de 2014, ouviremos afirmações, questionamentos e respostas das mais variadas formas, muito menos para resolver o problema ou para aplicar a solução, mas, fundamentalmente, para resolver o caso particular de cada um dos interessados, com a premissa básica de não se alterar o status quo do individuo e com a chance viva, clara e aguçada de ganhar alguma coisa com isso. Assim, a previsão de se fazer pontes, viadutos, trincheiras, avenidas, troca de favelas de lugar, reformas e tapumes mil, não passa por questões básicas da cidade, como perfil de dívida do município, prazos de execução, projetos, respeito aos documentos legais, ao meio ambiente, a cultura e as prioridades da comunidade. As pessoas da terra-mãe que vivem, assistirão a copa e continuarão a viver na cidade depois de 2014 tambem não importam, importa sim, fazer um bom palco e encenar uma boa comédia.
Para os turistas que virão assistir a copa, criar-se-á um “corredor da copa”, onde tudo funcionará, desde o aeroporto passando pelas tres ou quatro avenidas da copa, até os hoteis e ao estádio. Até aí muito fácil, mas, e se a torcida de dentro do estado resolver vir ver os jogos? Se os uruguaios resolverem atravessar a Campanha para invadir o Beira-Rio no dia do jogo Uruguai e Marrocos? Eles virão de ônibus e pararão onde? Eles terão segurança para o ir e vir pelo centro da cidade fazendo festas? Eles não ocuparão os hoteis, não comerão nos restaurantes PRIME, nem comprarão nos shoppings de luxo, mas, como os milhões de gaúchos que se submetem a esta tortura diariamente, eles serão recebidos com seus ônibus no ponto de ônibus que tem dentro do camelódromo que chamamos de rodoviária, andarão em ruas cheias de excrementos. Não será preciso nos preocupar com as “saidinhas de banco” ou com casas de câmbio confortáveis, pois eles não trocarão dólares ou sacarão dinheiro nos caixas eletrônicos, apensa usarão a cidade para se divertir e de quebra, poderão arranjar uma briguinha ou outra. O saldo poderá ser algumas pessoas falando mal de nós por lá, mas isso não importa, a gente inventa uma outra maneira de nos enganar, achando que eles são desqualificados para nos julgar. Faremos uns tres debates e umas duas enquetes na RBS e estaremos de alma lava, para o próximo GRENAL.
Mas, tudo isso não da para fingir que não vemos, que não sabemos ou que não previmos. Da mesma forma, a verdadeira reforma que a cidade vai ganhar, bem que poderia levar em conta o bem estar dos cidadãos e sua existibilidade após o evento e não apenas uma maquiagem para o espetáculo midiático que se encenará. O conforto do turista dveria ser assegurado, mas, o cidadão que vive trabalha e desfruta da cidade tambem deveria ser levado em conta. Um bom exemplo eu ouvi nas palavras do Engenheiro Emídio Marques Morteira, que foi diretor de obras do Beira Rio: “a reforma e modernização do Beira-Rio, foi idealizada para dar conforto ao torcedor, em primeiro lugar e a FIFA poderá usar nossa estrutura para os seus jogos, mas, nosso estádio está sendo repaginado para seu um gigante para sempre”. Bem que poderíamos aproveitar a deixa e repaginar uma Porto Alegre para sempre. Se ela for boa para seus cidadãos, certamente será para os turistas de antes, durante e depois de todas as copas.
Quanto as grandes obras, elas seriam tão bem vindas como as pequenas, mesmo que estas pequenas não paguem comissões "gordas", não precisem de grandes empreiteiras e nem precisem de contratos “guarda-chuva” como os da famigerada PPG ou de contratações por RDC – Regime Diferenciado de Contratação.
Fonte: Frontdesk
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