quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

REFORMA POLÍTICA - FALA ROCHINHA

Após PED, Rochinha defende pacto de unidade e retomada da bandeira da reforma política

Concluídas as eleições internas do PT em quase todo o país, o partido deve agora buscar um “pacto de unidade” que priorize o projeto nacional e a disputa eleitoral de 2010. Essa é a avaliação de Francisco da Rocha, o Rochinha, um dos coordenadores da CNB.

Para ele, a expressiva votação de José Eduardo Dutra e a formação de uma nova maioria no Diretório Nacional – os 55% conquistados pela chapa O Partido que Muda o Brasil – não irão interromper o processo de diálogo que tem caracterizado a atual direção.

“Tanto o Berzoini quanto o Zé Eduardo Dutra tem esse entendimento de que nenhuma corrente constrói sozinha o PT. (...) É momento de chamar todo mundo e de se fazer uma conversa política para valer, buscando um grau de unidade à altura dos desafios que o PT enfrentará em 2010”, afirmou.
Entre as tarefas imediatas do partido, Rochinha destaca a preparação para o IV Congresso Nacional do PT, marcado para fevereiro do ano que vem. Ele disse que irá levar ao Congresso uma proposta de resolução sobre a urgência de uma reforma política com financiamento público de campanha e voto em lista. “Se não fizermos isso, não estaremos dando a contribuição que o partido tem a obrigação de dar para a política brasileira e para a sociedade brasileira”, disse.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Mais de meio milhão de petistas votaram no PED 2009. A que você atribui esse inédito nível de mobilização da militância petista?

Quero começar agradecendo ao contingente de companheiros e companheiras que me ajudaram a coordenar esse processo, sob a confiança do presidente eleito, Zé Eduardo Dutra, e do atual presidente Ricardo Berzoini, e às pessoas que estiveram junto comigo nessa coordenação. O resultado foi além das minhas expectativas. Você lembra que, na nossa primeira conversa, eu tinha uma estimativa de 170 mil votando na CNB e 390 mil no geral. Cheguei perto de acertar nos percentuais – nossa chapa ficou com 55% e o Dutra teve 58%. Mas, para minha satisfação, o comparecimento foi muito além. Acho que isso se deve a vários fatores. Primeiro, os Estados foram à luta para mobilização dos filiados. Depois, teve um fato que contribuiu bastante, que foi a ida do presidente Lula, da dona Marisa e da ministra Dilma às urnas. Isso fez com que várias pessoas saíssem de casa e também se dirigissem aos locais de votação. Então, de 390 mil para mais de 500 mil, eu perdi feio. Isso é inédito para um partido, especialmente no Brasil e na América Latina, em que a tradição é ter cúpulas partidárias sem participação efetiva da base. Para o PT, o filiado é o principal elo de sustentação do partido. Ele esteve presente, ele deu resposta, foi participante e isso tem me deixado extremamente feliz. Quero inclusive congratular-me com todos, inclusive com aqueles que eu poderia chamar de anônimos, mas que são petistas tanto quanto eu e outros, independentemente da posição que tem dentro do PT.

Essa participação significa que a militância do PT está mobilizada para a campanha do ano que vem ou uma coisa não tem nada a ver com a outra?

Acho que tem as duas coisas. Nós precisamos agora nos debruçar sobre os números e fazer uma profunda reflexão. Acho, inclusive, que foi um recado a todos nós da direção, como quem diz: “nós estamos creditando a vocês uma fatura e vocês devem dar conta do recado”. Ou seja, dar continuidade à organização partidária iniciada na gestão do Berzoini, que se empenhou profundamente nisso, junto com o Paulo Ferreira.

Eu acho que essa participação no PED ajuda o partido a se organizar e a se preparar para o desafio do ano que vem. E estou muito satisfeito porque esse grande contingente com certeza estará muito mais engajado em 2010 e trará consigo vários outros atores para se juntar a esse exército que nós precisamos para eleger a companheira Dilma Rousseff. [Secretário Nacional de Finanças do PT]. A participação no PED foi um recado também para vários formadores de opinião que fizeram análises extremamente superficiais, misturando alhos com bugalhos. Sem querer desmerecer nenhum partido, o PT tem outro formado, do ponto de vista da sua organização. Nessa coisa, os chamados cientistas políticos ou os chamados comentaristas e formadores de opinião, para mim, estão a léguas ou a quilômetros de entender a dinâmica da organização interna do PT.

As eleições regionais foram definidas em primeiro turno em mais de 20 Estados. Qual a importância disso para a prevalência do projeto nacional em 2010?
Sem dúvida, isso demonstra muita unidade em torno do projeto maior, nacional. Na outra entrevista eu já havia dito que esse sentimento era muito presente para mim, que acompanho mais de perto, sem nenhuma pretensão, o desenrolar da política interna do PT. Veja que em vários locais nós fizemos chapas unitárias e eu fiquei até preocupado. Com chapa unitária, você pode ter problema de mobilização, porque a essência do PT é a disputa. Onde não tem disputa, a mobilização normalmente cai. Mas até nisso nós conseguimos nos superar. Temos o exemplo da Bahia, de Santa Catarina e mais dois ou três que tiveram chapas unitárias e a mobilização não comprometeu o resultado.

Por outro lado, os repuxos internos, o puxa-puxa da disputa em alguns Estados, são extremamente salutares, desde que não se baixe o nível, desde que não se vá para o lado pessoal. Sendo na política, é uma coisa importante. O que eu procurei fazer, junto a vários outros companheiros, foi administrar as questões do puxa-puxa local para não influir no desenvolvimento da chapa nacional e na votação do companheiro Zé Eduardo Dutra. Isso deu um resultado irreparável. Teve problemas em alguns Estados, do ponto de vista das disputas locais, mas isso não influiu em absolutamente nada na disputa nacional.

As disputas locais continuam em quatro Estados onde haverá segundo turno, sendo dois deles muito importantes – Rio de Janeiro e Minas Gerais. Você teme algum tipo de radicalização nessa reta final? Como evitar que isso ocorra?

Evitar é difícil. A tensão vai subir. É lógico que nessa semana, como foi na última semana do primeiro turno, a tensão política vai subir. E é bom, tem que acontecer isso mesmo. O que eu acho é que tem que estar dentro dos parâmetros do companheirismo, da respeitabilidade. Quem ganhar, ganhou; quem perder, perdeu. Eu sou o tipo da pessoa que fica louca quando perde, mas tenho que entender que perdi. No momento que você perde, tem de admitir e cumprimentar o vencedor. A disputa vai acontecer, com certeza, até o dia 6. Eu estou preparado para isso, estou acompanhando, mas acho que não vai ter nenhum problema que possa comprometer o resultado final.

No plano nacional, a chapa O Partido que Muda o Brasil obteve 55% dos votos. Essa nova maioria no Diretório pode ser comparada à maioria que existia até 2005 ou é uma maioria diferente? O que ela significa na atual conformação do PT?

Cada momento é um momento. Nos PEDs passados nós não tínhamos um milhão de filiados. Neste, nós temos um milhão, trezentos e cinqüenta mil. Tem gente nova, tem atores novos, tem renovação. Vai aparecer, agora, nesse mapa que fecharemos no dia 6, vários atores novos no processo interno. Com certeza, essas pessoas passarão a ser figuras de destaque nos seus municípios, nos seus Estados e possivelmente até em nível nacional. Essa é a dinâmica do partido. Você não pode fazer comparação entre um PED e outro, porque as pessoas, na sua grande maioria, são diferentes. E a participação da base prova claramente que teve, de fato, um processo de renovação.

Não existe corrente que construa o PT sozinha. A gente não pode olhar o resultado da CNB pela frieza dos números. Os números são importantes. Eu briguei, trabalhei para que a gente alcançasse esse resultado, junto com uma quantidade grande de pessoas. Mas eu quero deixar claro que esse é o momento de nós chamarmos as demais correntes para trabalhar, independentemente das diferenças políticas, um pacto de unidade. Já tem essa unidade em torno do projeto geral, que são as eleições do ano que vem. Agora temos de trabalhar as discussões da pauta interna do partido, sejam organizativas, sejam políticas, sejam do ponto de vista da definição de cargos na Executiva. Temos de fazer esse chamamento. Tanto o Berzoini quanto o Zé Eduardo Dutra tem esse entendimento de que nenhuma corrente constrói sozinha o PT. Não é porque você teve 50%, 60%, com uma votação expressiva para presidente, que pode passar pela sua cabeça a possibilidade de fazer exclusão. Pelo contrário. É momento de chamar todo mundo e de se fazer uma conversa política para valer, buscando um grau de unidade à altura dos desafios que o PT enfrentará em 2010.

Qual o próximo passo?

Tem um passo muito importante agora, que é a preparação do IV Congresso Nacional do PT. E nesse Congresso, além da pauta eleitoral, tem uma coisa que eu vou me debruçar para apresentar como projeto de resolução, que é a questão da reforma política. O Brasil precisa fazer uma profunda reforma política. Nós precisamos retomar essa pauta, incluindo financiamento público de campanha, voto em lista, fidelidade partidária e mandatos dos parlamentares subordinados à legenda. Se não fizermos isso, não estaremos dando a contribuição que o partido tem a obrigação de dar para a política brasileira e para a sociedade brasileira. Portanto, essa resolução eu levarei ao Congresso do PT e espero que os candidatos nossos se elejam comprometidos com isso.

O PT já se manifestou sobre esse tema em outras ocasiões, inclusive no III Congresso, e nesses mesmos termos que você coloca. No entanto, pouco se avançou porque não depende só do PT, a gente sabe disso. Como fazer para ser diferente dessa vez?

Teremos de ampliar as conversas com os demais partidos, sejam eles da base aliada ou não. Mesmo nos partidos que são nossos adversários existem pessoas, dirigentes e filiados que concordam com a reforma. Mas, sobretudo, temos de envolver a sociedade brasileira nessa discussão. Tem que politizar essa discussão com a sociedade. No Brasil, do ponto de vista da política, as coisas só acontecem quando você levanta uma bandeira que engaja a sociedade no processo. O PT tem obrigação de fazer isso. E eu vou ser uma das pessoas que vai brigar, no bom sentido, para que a gente transforme essa bandeira num grande movimento social.

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