terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O ano do Brasil e do presidente Lula


O professor (da Universidade de Harvard) Kenneth Maxwell – britânico de nascimento, radicado há muitos anos nos EUA – explicou na véspera do Natal, em sua coluna da Folha de S.Paulo, que “os brasileiros deveriam comemorar o fato de que tenham avançado tanto e de que um futuro promissor esteja ao seu alcance”. Para ele, “o Brasil encerra a década bem posicionado para o futuro” (leia a íntegra AQUI – necessário senha).


Brasilianista e autor de pesquisa que devassou a Inconfidência Mineira (A Devassa da Devassa), Maxwell (foto ao lado) também publicou outros trabalhos relevantes sobre Brasil e Portugal (entre eles, Marquês de Pombal, o paradoxo do Iluminismo). Antes expusera o papel de Henry Kissinger no golpe de 1973 no Chile – ousadia que o levaria ainda a deixar a revista Foreign Affairs e o Council on Foreign Relations (saiba mais AQUI e AQUI).

Comprometido apenas com a seriedade do próprio trabalho, estava certo ainda ao contestar o medo das “reginasduartes” e o terrorismo desencadeado pelos tucanos na campanha eleitoral de 2002, o que reduziu o valor do real a 1/4 do dólar (leia o artigo dele em 2002 para o Financial Times AQUI). Agora Maxwell vê o respaldo de 80% dos brasileiros ao seu presidente, encarado no mundo como exemplo a ser seguido – e Personalidade do Ano, como proclamou Le Monde no dia 24 (AQUI).

Retrato do império em decadência


Na França da Sorbonne de FHC, coube a um blog do Libération, rival do Le Monde, contrastar a atuação positiva de Lula na reunião de Copenhague com a queda de Obama: “Os discursos de Obama e Lula foram mais do que discursos sobre os grandes desafios que nossos líderes deveriam discutir em Copenhague. Para mim, marcaram a longa e tortuosa história do declínio do império americano” (conheça a íntegra AQUI).

Anabella Rosemberg, que assinou dia 18 o texto sob o título (misturando inglês e português) “Exit USA, boa tarde Brasil!”, definiu o quadro geral da degringolada das negociações do clima, “com a demissão de uma superpotência (EUA) e a chegada com brio de uma nação (o Brasil) que há algum tempo esperava, com paciência, para dar os primeiros passos”.

A recusa em negociar, para ela, é o primeiro sinal de fraqueza dos poderosos. “Nas três propostas que colocou na mesa, Obama não mostrou flexibilidade. Teve ainda o cuidado de não assumir a responsabilidade dos EUA pelo acúmulo de emissões de gás de efeito estufa. Da parte de Lula tudo era liderança, vontade, ambição. Claro que não é perfeito. A questão não é essa. Mas mostrou aos olhos do mundo que seu país está preparado para jogar no primeiro time”.

Ainda na Europa, o maior jornal da Espanha, El País, já tinha considerado Lula, no dia 10, o personagem do ano de 2009, entre “Los Cien del Año”, os 100 homens e mulheres iberoamericanos que marcaram os últimos 12 meses. Coube ao próprio presidente do governo espanhol, José Luiz Rodrigues Zapatero, fazer o perfil do governante brasileiro, sob a manchete “El hombre que asombra el mundo” (AQUI).

O entusiasmo do conservador Chirac

Disse o espanhol sentir “profunda admiração” por esse homem que conheceu em setembro de 2004, na cúpula – organizada pela ONU em Nova York – da Aliança Contra a Fome, liderada pelo brasileiro. Como correspondente para a Tribuna da Imprensa, Globo News, Rádio França Internacional e Jornal de Notícias (de Portugal), tive o privilégio de cobrir aquele evento, presidido pelo francês Jacques Chirac.

A Assembléia Geral da ONU começaria dois dias depois, mas governantes do mundo inteiro anteciparam a chegada a Nova York por causa da reunião de Lula. O maior entusiasta da cúpula era Chirac, que também declarou admiração pelo brasileiro. Ele viajaria de volta à França ao final daquela reunião, deixando para o chanceler a missão de discursar pelo país na Assembléia Geral.

O esforço incansável da grande mídia brasileira para esconder, tentar esvaziar ou desmerecer o reconhecimento mundial pouco afeta a imagem de Lula, dada a frequência com que governantes, personalidades e veículos de mídia de vários países se pronunciam de forma positiva sobre ele. Nos EUA o próprio Obama manifestou explicitamente sua opinião, ao saudá-lo como “o cara”, o “político mais popular do mundo” (mais AQUI).

Por conduzir no Itamaraty a política externa brasileira, Celso Amorim tem sido alvo obsessivo do bombardeio de nossa mídia. Na ofensiva foi denunciado pelo papel antigolpista do Brasil em Honduras. Mas é encarado com grande respeito no exterior. David Rothkopf – da revista Foreign Policy, conservadora nas posições sobre América Latina – apontou-o como “o melhor ministro do Exterior do mundo” (leia AQUI e veja abaixo a foto que ilustrou o artigo).


Quem afinal ficou bem na foto?

Para desespero de nossa mídia as avaliações de Lula estão em toda parte – e nada têm a ver com o que ela própria e a oposição alegam nos ataques ao governo. É possível encontrá-las em diferentes línguas. Na maior revista alemã, Der Spiegel (AQUI), em Newsweek (AQUI e AQUI), no Washington Post (AQUI), New York Times (AQUI), etc. Não é um amontoado de elogios vazios. Referem-se também a dificuldades e obstáculos a superar. Mas o tom é sempre positivo, sem as leviandades e irrelevâncias que inspiram a ofensiva destemperada daqui.

Dificilmente poderia ter havido ano mais auspicioso para o Brasil. Isso ficou claro ainda nos momentos finais da conferência de Copenhague. Obama chegou atrasado, perdeu o bonde da História e, esnobado pelo presidente chinês Wen Jiabao (que se fez representar por gente de escalão inferior em reuniões de que Obama participava) invadiu como um penetra a sala onde se reuniam Brasil, África do Sul, Índia e China (o grupo BASIC).

Foto e relato do New York Times (AQUI), seguidos depois por texto também destacado no Washington Post (AQUI), retrataram o quadro insólito. Obama entrou sem ser convidado. Lá estavam Wen, Lula e os governantes indiano e sul-africano: “Vou sentar ao lado do meu amigo presidente Lula”, disse. Ali remendou num par de horas o acordo de três páginas que evitou o fracasso sem ir além de uma esperança vaga no futuro.

Para variar Lula ficou bem na foto – literal e simbolicamente. À direita de Obama, a quem socorrera, e com a ministra Dilma Roussef (à esquerda de Hillary Clinton). Essa imagem final do ano (veja a foto do alto, sob o título do post) refletiu o papel do Brasil e seu presidente. Mais uma vez contrariou a obsessão da mídia golpista aliada à oposição idem (PSDB-DEM-PPS). Por 12 meses mídia e oposição tentaram semear o pânico e afogar o país no tsunami da crise mundial – da qual o Brasil foi o primeiro a sair.

Publicado no Blog do Argemiro Ferreira

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