quarta-feira, 17 de junho de 2009

PROUNI - Carta da Patrícia Melo e outros

Queridos amigos
É com muito orgulho que repasso pra vcs essa matéria publicada hoje na Folha de São Paulo:
"A cota de sucesso da turma do ProUni
Os pobres que entraram nas universidades privadas deram uma aula aos demófobos do andar de cima
ELIO GASPARI". (leiam abaixo)

Eu como PRONISTA, sei que essa informação é pura realidade, apesar de não ser novidade para mim. Curso Direito na PUCRS, com bolsa integral pelo PROUNI e sei o quanto "nós" damos um duro danado pra poder cursar a faculdade com dignidade. Não é fácil pra nós pagarmos nosso material, livros, passagens, alimentação... trabalhar o dia todo, dispor de pouco tempo para os estudos e ainda obter bons resultados. Muitos de nós ainda enfrentamos um certo preconceito velado, de forma dissimulada, subjetiva... mas estamos lá firme e fortes! Não temos roupas de grife, não usamos jóias ou carros de luxo (como já tentaram acusar), usamos roupas e calçados simples, mas que veste uma alma limpa e merecedoura de estar ali... andamos de ônibus, enfrentamos todas as dificuldades, pois só nós sabemos o quanto isso é importante. Não vejo colegas prounistas sendo grosseiros com colegas e mestre, assim como não vejo os mesmos colegas responder a chamada e sair no primeiro minuto de aula, não... aproveitamos cada minuto que nos é concedido, pois é a realização de um sonho e é muito bom realizar um sonho. Concorremos com milhares de estudantes, passamos por várias etapas até termos nossa bolsa deferida, no entanto só os melhores conseguem as universidades mais conceituadas e os cursos mais concorridos e me orgulho muito de estar incluído nesse seleto grupo, pois além de ser uma conquista pessoal, sei que sou um grande exemplo para meus filhos e para outras pessoas, qua acabam por não realizar seus sonhos por falta de oportunidade. Levei vinte e cinco anos para realizar o meu, mas hoje estou aqui, com minha experiência de mulher madura provando que nunca é tarde para começar e de cabeça erguida!!!!

"No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver..."
Ivan Lins e Victor Martins
fonte:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1706200904.htm
Editoriais, artigos e opiniões

> Folha de São Paulo, 17/06/2009 - São Paulo SP
A cota de sucesso da turma do ProUni
Os pobres que entraram nas universidades privadas deram uma aula aos demófobos do andar de cima
ELIO GASPARI
A DEMOFOBIA pedagógica perdeu mais uma para a teimosa insubordinação dos jovens pobres e negros. Ao longo dos últimos anos o elitismo convencional ensinou que, se um sistema de cotas levasse estudantes negros para as universidades públicas, eles não seriam capazes de acompanhar as aulas e acabariam fugindo das escolas. Lorota. Cinco anos de vigência das cotas na UFRJ e na Federal da Bahia ensinaram que os cotistas conseguem um desempenho médio equivalente ao dos demais estudantes, com menor taxa de evasão. Quando Nosso Guia criou o ProUni, abrindo o sistema de bolsas em faculdades privadas para jovens de baixa renda (põe baixa nisso, 1,5 salário mínimo per capita de renda familiar para a bolsa integral), com cotas para negros, foi acusado de nivelar por baixo o acesso ao ensino superior. De novo, especulou-se que os pobres, por serem pobres, teriam dificuldade para se manter nas escolas. Os repórteres Denise Menchen e Antonio Gois contaram que, pela segunda vez em dois anos, o desempenho dos bolsistas do ProUni ficou acima da média dos demais estudantes que prestaram o Provão. Em 2004, os beneficiados foram cerca de 130 mil jovens que dificilmente chegariam ao ensino superior (45% dos bolsistas do ProUni são afrodescendentes, ou descendentes de escravos, para quem não gosta da expressão). O DEM (ex-PFL) e a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino foram ao Supremo Tribunal Federal, arguindo a inconstitucionalidade dos mecanismos do ProUni. Sustentam que a preferência pelos estudantes pobres e as cotas para negros (igualmente pobres) ofendiam a noção segundo a qual todos são iguais perante a lei. O caso ainda não foi julgado pelo tribunal, mas já foi relatado pelo ministro Carlos Ayres Britto, em voto memorável. Ele lembrou um trecho da Oração aos Moços de Rui Barbosa: "Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real". A "Oração aos Moços" é de 1921, quando Rui já prevalecera com sua contribuição abolicionista. A discussão em torno do sistema de acesso dos afrodescendentes às universidades teve a virtude de chamar a atenção para o passado e para a esplêndida produção historiográfica sobre a situação do negro brasileiro no final do século 19. Acaba de sair um livro exemplar dessa qualidade, é "O jogo da Dissimulação - Abolição e Cidadania Negra no Brasil", da professora Wlamyra de Albuquerque, da Federal da Bahia. Ela mostra o que foi o peso da cor. Dezesseis negros africanos que chegaram à Bahia em 1877 para comerciar foram deportados, apesar de serem súditos britânicos. Negros ingleses negros eram, e o Brasil não seria o lugar deles.
A professora Albuquerque transcreve em seu livro uma carta de escravos libertos endereçada a Rui Barbosa em 1889, um ano depois da Abolição. Nela havia um pleito, que demorou para começar a ser atendido, mas que o DEM e os donos de faculdades ainda lutam para derrubar: "Nossos filhos jazem imersos em profundas trevas. É preciso esclarecê-los e guiá-los por meio da instrução". A comissão pedia o cumprimento de uma lei de 1871 que prometia educação para os libertos. Mais de cem anos depois, iniciativas como o ProUni mostraram não só que isso era possível mas que, surgindo a oportunidade, a garotada faria bonito.

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