RÉDEAS NO SISTEMA FINANCEIRO
Ademir Wiederkehr
O cantor e compositor Vitor Mateus Teixeira era mestre na arte de
transformar simples histórias do campo em músicas que viraram grandes
sucessos. O que ele certamente nunca imaginou é que uma de suas canções mais
populares, Tordilho Negro, possa ser usada hoje como metáfora para explicar
o papel do sistema financeiro nacional e apontar caminhos neste momento de
crise financeira mundial.
Teixeirinha conta que um gaúcho tinha um cavalo que foi mal domado e ficou
redomão. "O dono do pingo desafiava qualquer peão e dava o tordilho de
presente para quem montasse sem cair no chão". O sistema financeiro não pode
ser comparado a um cavalo xucro?
Os bancos no Brasil cobram preços exagerados pelos seus serviços. As taxas
de juros permanecem muito elevadas. O spread bancário (a diferença entre as
taxas de captação e empréstimo) é um dos mais altos do mundo. As tarifas,
mesmo depois da regulamentação do Banco Central, continuam altas, onerando
clientes e usuários.
Não é à toa que os bancos, mesmo com a crise, continuam apresentando
resultados astronômicos. No primeiro trimestre de 2009, o Itaú Unibanco
lucrou R$ 2,014 bilhões, o Bradesco R$ 1,723 bilhão, o BB R$ 1,665 bilhão, a
Caixa Econômica Federal R$.452 milhões, o Santander R$ 416 milhões e o
Banrisul R$ 106,5 milhão. Por isso, eles não têm motivos para demitir,
apesar das fusões. Precisam, isto sim, baratear o crédito e melhorar o
atendimento, a segurança e a distribuição dos seus lucros.
Está na hora de a sociedade colocar rédeas no sistema financeiro. Na canção,
o grande artista da música do Rio Grande conta que topou o desafio, montou
no bagual e saiu pelo campo. "Tordilho negro berrava na espora, por vinte
horas ninguém mais nos viu". Mas, de repente, ouviram um tropel, olharam o
campo e viram que ele vinha vindo, "feliz saboreando uma marcha troteada".
Cabe ao Congresso Nacional a tarefa de regulamentar o artigo 192 da
Constituição que trata do sistema financeiro. É preciso definir o papel dos
bancos públicos e privados, fixar as atribuições do Banco Central e
estabelecer formas de controle social. A riqueza da Nação não pode continuar
sendo apropriada pelos banqueiros ou remetida para o exterior e aos paraísos
fiscais. Os bancos precisam investir no desenvolvimento do País, com geração
de empregos e renda. O cavalo está encilhado!
Diretor do SindBancários e da Contraf-CUT
Fonte: Correio do Povo
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