quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Envelhecer em nossas cidades é um grande desafio

Por Adeli Sell
* Vereador e presidente do PT em Porto Alegre


Porto Alegre ainda não está preparada para receber e conviver com um contingente expressivo de idosos. Basta ver nossas calçadas cheias de buracos; edifícios públicos sem rampas de acesso para pedestre ou sem elevadores. Os ônibus, apesar da gratuidade, na sua maioria com degraus, exigem muito esforço para o embarque ou desembarque.

Acidentes de trânsito/transportes e as quedas associadas, por exemplo, às calçadas irregulares, ocupam os dois primeiros lugares no conjunto de mortalidade por causas externas específicas em idosos no Brasil, respectivamente com índices de 29,6% e 16,6%, conforme pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz em 2002.

Os ambientes devem ser planejados para promover e encorajar a independência e a autonomia, de forma que uma boa qualidade de vida possa ser proporcionada a todos os indivíduos.

A velhice deve ser um compromisso de todos. Uma questão pública, assim como a infância e a adolescência, por exemplo. Se tivéssemos essas duas etapas da vida amparadas, certamente teríamos uma velhice melhor, assistida publicamente. Por isso, precisamos pensar numa Porto Alegre amiga do idoso, que respeite e inclua socialmente todos eles.

É necessário criar espaços para todos que permitam a adaptação de qualquer indivíduo, até mesmo aqueles que apresentam perdas funcionais – espaços acessíveis. A começar pelas nossas praças, que não são adequadas. Há poucos bancos, quando existem. Os equipamentos de ginástica são defasados, quando deveria haver equipamentos de fácil acesso. Os idosos podem ser aqueles que por um novo ritmo de vida, ajudem a disputar positivamente os espaços públicos da cidade.

O Poder Público precisaria revisar a sua agenda no que se refere ao entretenimento. Não há programas culturais específicos para os idosos, além dos tradicionais bailes da 3ª idade. Há que se discutir, também, horários mais adequados em teatros, shows e cinemas. Programação convidativa e em horários alternativos para uma ativa vida cultural e ampliação de repertório que pode devolver aos idosos alegria e animo, além de elevar a autoestima.

Na área da saúde vamos encontrar a maior precariedade. Levando em consideração que qualidade de vida deixou de representar apenas vida sem doença física, mas passou a representar busca de felicidade e satisfação pessoal em todos os aspectos da vida, é preciso pensar e buscar avanços nos âmbitos profissional, social, fisiológico, emocional e espiritual, além de um equilíbrio entre fisioterapia e terapia ocupacional. A dita terceira idade tem vida sexual ativa e com ela toda uma gama de novas e velhas questões a serem trabalhadas também. Para além dos clichês como reumatismo ou dislipidemias, caberá a área da saúde entender a nova perspectiva da população acima dos 60 anos e transformar-se junto a ela para assegurar a esta população energia para seguir vivendo em busca da felicidade.

A municipalidade tem um papel fundamental na garantia dos direitos. Ao garantir esses direitos ganhará uma legião de cuidadores que provavelmente trabalhará de forma voluntária pelo bem da cidade. Aí sim poderíamos falar de uma educação cidadã. Outrossim, a sociedade poderia pensar e organizar um conjunto de serviços para aposentados, garantindo não apenas renda, mas ocupação e nova qualidade de vida para essas pessoas.

3 comentários:

Rocco disse...

Caro vereador, o senhor certamente tem conhecimento da acirrada polêmica entre cidadãos e o secretário da indústria e comércio, Walter Nagelstein, que acabou dando declarações absolutamente arrogantes, grosseiras e descabidas para alguém que ocupa esse cargo (tanto em tom quanto em conteúdo, mostrando seu despreparo). Discutia-se o estacionamento de carros no Largo Glênio Peres aos sábados. Resumindo, o secretário argumenta que isso leva clientes “mais qualificados” ao Mercado Público e aumenta as vendas dos permissionários – o que seria o objetivo da SMIC. Se não me engano, esse expediente foi iniciado quando o senhor estava à frente da secretaria. Considerando o privilégio que se dá ao carro privado em Porto Alegre (fato que o senhor mesmo tem apontado repetidamente) em comparação com os pouquíssimos espaços para a convivência de pedestres e os danos visíveis causados ao piso do Largo, que foi feito para caminhar, gostaria de saber sua opinião sobre as declarações do atual secretário e sobre o tema propriamente dito.
Mas, por favor, exponha uma opinião clara: o estacionamento de carros no Largo Glênio Peres deve ser permitido atualmente?

ADELI SELL disse...

Rocco,
Efetivamente, em nossa época começamos a permitir em alguns horários, como depois das 19h, quando há menos circulação e sábado de tarde.
AGora, o horario foi antecipado tanto no final da tarde, como liberdado pelo sábado de manhã.
Não é nada ideal isto.
Nem o que foi feito em meu período e pior agora.
A gente imaginava que resolveríamos em breve alguns problemas no Centro, conseguir estacionamentos próximos numa parceria com os estacionamentos. Eu havia iniciado este processo Não foi conclusivo e posteriormente abandonado.
E a gente vinha tratando de mudar questões do tranporte coletivo. Perdemos a eleiçao em 2004, erramos em alguns encaminhamentos, mas depois veio só o papo de Portais e tudo ficou no atraso.
Eu continuo defendendo espaços públicos para a cidadania, para transitar nas calçadas, nos parques, nos espaços vazios.
Um abraço pela colaboraçao

Rocco disse...

Obrigado, vereador, acho uma posição coerente. Apesar de seu uma questão pontual, sugiro que a inclua em seus pronunciamento e ações. Realmente, já há várias lajotas do piso do Largo avariadas pelo peso dos carros, já que a obra de restauração não foi concebida para isso.