segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Artigo - Reflexões sobre a cultura Gaúcha

Por Adeli Sell
*Vereador e Presidente do PT-POA


Aproveito a chamada Semana Farroupilha, o evento do Acampamento Farroupilha, para fazer algumas reflexões sobre a chamada Cultura Gaúcha.

Sou nascido em Santa Catarina, onde temos CTGs em muitas cidades, inclusive naquela onde me criei - Cunha Porã, Oeste do Estado - onde temos uma forte colonização de gaúchos, onde minha família era das poucas que vinha do Litoral.

Estou no Rio Grande do Sul desde 1972. Fui adotado por Porto Alegre e me considero um filho seu por adoção. Conheço e estudo a nossa cultura como poucos, e é por isso que me revolto com o que vem acontecendo aqui na capital, durante os festejos da Semana Farroupilha e mais especialmente no Acampamento Farroupilha.

Aqui, conheci a rica culinária e gastronomia regional, com seu carreteiro de charque, a vaca atolada, o quibebe, etc. Aprendi também a forma de fazer churrasco. Como fora ou se supõe ser o nascedouro do jeito de assar e suas adaptações.

Sempre soube que nossa tradição aqui era cachaça pura ou batizada com ervas e frutas locais. Mas jamais me passaria na cabeça de ver "capeta" e outras beberragens com cachaça vagabunda sendo vendidas no Acampamento Farroupilha, como exemplo de tradição.

Eu tenho carinho pelo que a Bahia fez e produz. Sou fã do acarajé e da água de coco, assim como da cocada. Mas isto estar no lugar da guarapa, da rapadura, do pé de moleque me parece uma enganação.
Também não encontro mais o pastel de carreira que conheci feito pelo Luizão, que foi enxotado pela ganância do MTG, da entidade, não do Movimento. Eu respeito o movimento, mas repudio o que os dirigentes da entidade estão fazendo.

Só entra no Acampamento quem se dobrar à ditadura dos dirigentes, os que, na verdade, resolveram deturpar o evento, que começou com alguns membros de CTGs, mais especialmente de gente ligada a Piquetes. Hoje, o que manda no acampamento é o dinheiro, aqueles que pagam e que se submetem.

Que não faz sentido andar a cavalo desabaladamente pelas ruas da cidade, próximo ou dentro do Acampamento nós entendemos, mas não deixar animais ali, com cocheiras, é na verdade mais uma amostra que o que deve reinar é o comércio que paga os donos do Acampamento. Sim, donos. Mesmo o local sendo público, mesmo com um batalhão de servidores da Prefeitura, EPTC, DMLU, SMAM, DEP etc, tem a Brigada Militar, a Polícia Civil, a CEEE etc. Tudo a serviço do evento, mas o que fica para a nossa cidade? Um parque após o evento detonado, tendo que ser refeito pelo poder público, pois até aqui o MTG nunca cumpriu com o que assinou com a Prefeitura.

Vocês sabem o quanto entra ali de verbas públicas, de dinheiro das leis de incentivo à cultura? Uma fortuna. E o que fica para a nossa cultura?

Só existe o que os piquetes fazem sem um centavo de incentivo. Só fica o que algumas pessoas fazem com o seu dinheiro, com os seus conhecimentos. Onde estão os festivais de gaiteiros? Onde está a tradição de nossos trovadores? Um certame de trovas? Quando existe é de forma acanhada nos piquetes? Danças? Onde há concurso de danças típicas?

Onde está o baile oficial da Prefeitura, como durante os festejos do aniversário da cidade? Nada disto existe. O que existe é um fantasma de uma tradição que quando é questionada, a resposta é ameaça como eu e outro vereador sofremos em plena reunião da Câmara Municipal.

Mas a gente não vai se calar. A gente vai querer discutir a nossa cultura. A gente vai querer discutir e não há ameaças que vão nos fazer render.

Não me vendo e nem me rendo.

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