segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um novo Rio Grande pode estar nascendo


O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, tem insistido em variados pronunciamentos em três eixos para o seu governo: 1) a transparência, como regra de atuação; 2) o combate à miséria, como objetivo permanente; 3) o crescimento econômico, como instrumento de geração de novas oportunidades e desenvolvimento. Tendo em vista os objetivos anunciados pelos últimos governantes gaúchos, as pretensões de Tarso parecem simples. Afinal, ética, solidariedade e desenvolvimento, exceptuando os de direita, em geral são compromissos básicos de qualquer governo. 
No Rio Grande do Sul, entretanto, faz tempo que o óbvio não é observado. O último governo foi desastroso, o penúltimo foi pálido, o antepenúltimo foi conflitivo e seu antecessor privatista e radicalmente neoliberal, ainda que eleito com uma plataforma democrática. Pelo menos nos últimos vinte anos todos os governadores gaúchos não colocaram os objetivos dos cidadãos comuns em seu horizonte. De direita, de centro, ou de esquerda, seus governos perseguiram objetivos particulares, de grupos de classe, ou mesmo interesses privados pessoais. Com isso, esterilizaram em seus nascedouros sua capacidade de hegemonizar a sociedade, de reconstruir com ela um relançamento da economia gaúcha, de seu modelo de funcionamento e condução.
Tarso, como todo governante, corre o risco do fracasso. Sua gestão pode não dar certo. A sociedade gaúcha talvez não se mostre à altura dos desafios que o governador se propõe superar. Afinal, como ser transparente quando a regra cada dia mais parece ser o patrimonialismo? Como combater a miséria num ambiente competitivo e concentrador? Como gerar desenvolvimento do conjunto da economia quando a regra até o ano passado vinha sendo não investir, não arriscar, conter custos, demitir?
No Rio Grande de hoje perseguir o óbvio é remar contra a maré dos interesses particulares e corporativos. O Rio Grande do Sul que Tarso se propôs a governar é um Estado em que o óbvio é quase inatingível. Tarso, até agora, tem dado sinais de que tem plena compreensão de seu papel e função. Ao colocar metas que são objetivos comuns das pessoas como tarefas centrais, o governador demonstra compreender que a sociedade gaúcha está farta de seus antigos partidos e soluções políticas, dos líderes portadores de projetos particularistas.
Se conseguir impor o óbvio, Tarso vai se tornar o melhor governador desde o retorno à democracia.
Sinais de mudança na economia
Esta semana a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul anunciou o crescimento de 8,7% no Índice de Desempenho Industrial do Estado. A recuperação ocorreu depois de uma década de desempenho medíocre e de um 2009 desastroso, com índice negativo de 12,1%. Ou seja, os 8,7% são muito bons, mas é preciso ter em conta que sequer recuperam a queda dos 12,1 do ano anterior.
Creio que os instrumentos de medição do IDI são os mesmos do IBGE, que anunciou crescimento de 10,5% na produção industrial do conjunto do país em 2010. Se forem os mesmos, o Rio Grande do Sul ainda estaria abaixo da média nacional. De qualquer modo, é um começo de recuperação, depois de muitos anos em que a economia gaúcha vinha muito mal.
Como já havíamos afirmado aqui, o empresariado gaúcho, depois de passar anos na contramão do Brasil, começou a mudar de atitude. Conforme o presidente da FIERGS, Paulo Tigre, “crédito, emprego e maior renda fizeram com que o mercado interno contribuísse de modo decisivo para o resultado”.  Ou seja, o governo Lula, ao enfrentar a crise econômica mundial e superá-la, como superou, abriu uma janela para a retomada do crescimento da indústria e da economia gaúcha.
No pacote de medidas de urgência que enviou à Assembleia, Tarso inclui ações de incentivo à descentralização da indústria e da economia. A sinalização é clara: o crescimento tem de acontecer para todos.
Sinais de força na política
Não podemos imputar a Tarso Genro o fato de Marco Maia (PT-RS) ter sido eleito presidente da Câmara Federal. Mas é evidente que o PT gaúcho está se reestruturando em torno ao projeto de seu governo e renovando suas lideranças em nível regional e nacional. Marco Maia é expressão disso.
No primeiro governo Lula, os petistas gaúchos enviaram a Brasília seus quadros históricos. Dilma Rousseff, ainda que não fosse militante histórica do PT, também foi uma contribuição desse momento. Hoje, Marco Maia é a expressão de uma nova geração de quadros partidários formados na luta social no Rio Grande do Sul. Maia não é o único. Tem muitos outros junto com ele. Marco Maia é habilidoso, pragmático e perseverante. Se os seus pares não estiverem mais uma vez tirando ouro do nariz, Maia pode contribuir para a recuperação da imagem da Câmara Federal.  

PS: Tirei umas férias. Maiores aqui, na coluna, que no resto de minhas atividades. Nas férias, fui conhecer um pouco do Chile. Pisei no mar gelado do Pacífico. Quando voltei, tinha demandas reprimidas na minha empresa. Tomaram mais tempo que eu esperava.  Aos leitores que sentiram minha ausência, muito obrigado. Hoje, retomo ao meu compromisso com a Carta Capital. Que 2011 seja um grande ano para todos nós. 

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