Ao sair do estabelecimento, aquele peso na consciência e as sobras por todos os lados. Na rua, uma senhora esquálida pedindo ao dono comida, ainda bem que ele acondicionou algumas coisas e deu a ela. Mas, fico a pensar: será que não poderia ser diferente?
O desperdício de alimentos é um desafio mundial. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) considera a questão da perda de alimentos de grande importância nos esforços para combater a fome, aumentar a renda e melhorar a segurança alimentar nos países mais pobres do mundo.
Segundo o Instituto Akatu de Consumo Consciente, nosso país é um dos campeões mundiais de desperdício. Cerca de 26,3 milhões de toneladas de alimentos tem o lixo como destino. Desperdiçamos o equivalente a 39 mil toneladas por dia, quantidade esta suficiente para alimentar 19 milhões de brasileiros, com as três refeições básicas: café da manhã, almoço e jantar.
Feita esta reflexão, sigo meu rumo. Na estrada, presencio outra barbaridade. Um caminhão carregado de soja despeja grãos por todos os lados. Dizem que o sistema rodoviário é mais fácil de levar o produto de ponto a ponto, mas como as estradas são ruins o desperdício é maior. Investimentos para dar suporte aos produtores e melhorar a infraestrutura, portanto, são necessários.
Segundo a FAO, um terço dos alimentos é perdido durante os processos de produção e venda, um desperdício equivalente a um trilhão de dólares. Nas regiões industrializadas, quase metade da comida descartada, cerca de 300 milhões de toneladas por ano, ainda está própria para o consumo. Esta quantidade é equivalente a toda a produção de alimentos da África Subsaariana, e suficiente para alimentar 870 milhões de pessoas.
Como em muitos casos o problema está no comportamento do próprio consumidor, que joga fora muita comida, se faz urgente uma política internacional da FAO/ONU com o objetivo de evitar sobras - como as que presenciei no restaurante - e garantir o reaproveitamento integral dos alimentos . Em um país como o Brasil, onde existem milhões de pessoas passando fome, o desperdício nos entrepostos de abastecimento é inadmissível.
Em nível estadual, nosso governo, por intermédio das Secretarias de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo e do Trabalho e Desenvolvimento Social, juntamente com a CEASA e a Emater, firmou um Termo de Cooperação visando combater o desperdício de alimentos, através do aproveitamento de excedentes não comercializados de hortigranjeiros, bem como através de doações de alimentos.
No ano de 2011, por exemplo, foi possível aproveitar mil toneladas de hortigranjeiros, doados por atacadistas e produtores. Os alimentos beneficiaram a população em insegurança alimentar, através de entidades sociais, já cadastradas no Programa Social da Ceasa.
Precisamos apostar na agricultura familiar, fugir da produção de soja, trigo, arroz em pequenas propriedades. E, por que não, começar a plantar bambu, pois o país mais populoso do mundo começa a sentir os efeitos de uma grave crise de produção de bambu. Pensem nisto.
Os nossos governos locais, estaduais e federal precisam diuturnamente estar preocupados com esta questão, educando a população, organizando a produção, o transporte e o consumo responsável.
Mas nós todos(as) temos que fazer campanhas contra o desperdício de alimentos.
Começamos por aqui.
ADELI SELL é consultor e escritor
Um comentário:
Adeli, este é o grande misterio do Brasil...pois em cada RESTAURANTE Q VOCE VA...e uma ESNOBAÇÃO DE ALIMENTOS E MUITA COISA SOBRA E VAI FORA...e da mesma forma ocorre nos Supermercados, qdo. as frutas e verduras chegam a ficar moles ou murchas, os funcionarios colocam dentro de 1 latão e vai para onde para os porcos? Porque nao vendem mais barato para q estas mercadorias nao sobrem nas gondolas...mas a GANANCIA DOS SUPERMERCADISTAS E MAIOR...- jader martins,-
Postar um comentário