quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Viaduto Otávio Rocha faz 80 anos


Por Adeli Sell
Vereador

De tanto pensar no aniversário que se aproxima desta bela obra arquitetônica que é o Viaduto Otávio Rocha sonhei que encontrara no domingo pela manhã, os velhos Borges de Medeiros e Otávio Rocha numa banca de jornal. Eles gesticulavam para o Viaduto, quando me aproximei e ouvi Otávio dizer ao velho Borges: “veja o que fizemos há 80 anos, tanto esforço, investimento e tudo se converteu nesta construção acinzentada, suja, degradada, com pessoas dormindo sob seus pilares". Borges replica: “pois é meu caro Otávio, estou indo para Pasárgada”...

Puxa, uma resposta que nada tinha a ver com a queixa do Otávio, mas me lembrei do Manuel Bandeira que deve ter escrito isto para dizer adeus! E, porque: "Lá sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero (...)". Isto não só embaralhou minha cabeça, mas me fez acordar. Meio tonto e assustado.

Por proposta minha, desde 2009 festejamos anualmente o Viaduto, belo ainda, apesar de sujo e maltratado. Minha intenção ao propor a instituição da Semana Municipal do Viaduto Otávio Rocha – que passou a integrar o Calendário Oficial de Eventos de Porto Alegre - objetiva sensibilizar e contribuir para a conscientização de conservar este patrimônio histórico e cultural, para que o espaço volte a assumir toda sua magnitude.

A Associação local está propondo algumas atividades que ajudem a renovar o olhar de todos os porto-alegrenses para a beleza e importância deste monumento da cidade. Mas nada vi por enquanto por parte da Municipalidade, apesar das minhas cobranças.

Este monumento da cidade não pode permanecer relegado ao abandono, como se viu nos últimos anos. Tomado por pessoas que fazem do local dormitório, refeitório e banheiro; com infiltrações em suas paredes que deixam água escorrendo por muros e piso; ponto de assaltos em qualquer hora do dia, o viaduto pede socorro! Temos que nos juntar às boas almas do Centro Histórico e às pessoas que pensam a cidade, para um grande momento de reconquista do Viaduto. Por isso, convoco nossas entidades da arquitetura e do urbanismo, como o IAB, ASBEA, SENGE entre outras, a propor uma recuperação do Viaduto.

A rotina apressada dos dias de hoje muitas vezes embaça o olhar. Usamos o viaduto e passamos por ele com tanta frequência que quase esquecemos de vê-lo e admirá-lo. Por isso, é preciso em alguns momentos exercitar o olhar para revê-lo pela primeira vez. Dar o tempo de admirar aquilo que sempre está ali e saber que pode ser muito melhor. A responsabilidade é do Poder Público, mas também de cada um de nós.

Já fui lojista por longos 15 anos no Viaduto Otávio Rocha, vendendo, comprando e trocando livros, revistas e gibis. Tenho saudades daqueles tempos. Mas como o saudosismo não alimenta a alma, é necessário ações novas, ousadas e potentes.

Este é o desafio que faço aos meus concidadãos para salvar o Viaduto Otávio Rocha. Não basta fazer uso do viaduto, é preciso que, por vezes, nos detenhamos para apreciar sua majestosa beleza, para que sua conservação permanente permita que este legado seja transmitido às novas gerações e a todos que visitam nossa cidade. Assim, quem sabe, num próximo sonho não encontre de volta o velho Otávio Rocha, agora com o Alberto Bins, que continuou sua obra, Borges de Medeiros e mais algumas figuras de nossa História. Talvez eu os possa ver acompanhados do Fortunati e Tarso, ou estaria sonhando novamente?

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