terça-feira, 7 de setembro de 2010

Quando a imprensa nem vê seu erro

Quando a imprensa nem vê seu erro


qui , 27/8/2009
Paulo Moreira LeiteGeral

No momento em que o Supremo Tribunal Federal julga o destino de Antonio Palocci, me parece útil lembrar um erro da imprensa. É um erro lateral, que não envolve nenhum personagem central na história mas, como sabe toda pessoa que já foi vítima de um erro jornalístico, envergonha a profissão e machuca quem é atingido.



Estou falando de Matheus Leitão, que era, e é, repórter da revista Época, em Brasília.



Durante a confecção da reportagem sobre o extrato bancário do caseiro que denunciou o ministro, Matheus Leitão estava fora da redação. Tinha compromissos familiares prioritários — o nascimento de uma filha — e só apareceu no local de trabalho de passagem.



Mas Matheus Leitão é filho de Marcelo Netto, assessor de imprensa de Palocci. Essa coincidência levou determinados jornalistas a deduzir que ele teria recebido os extratos do caseiro em nome da revista. Não só imaginaram essa relação, o que é até natural na atividade de quem faz uma investigação e apura fatos desconhecidos – mas deram curso à própria imaginação, sem conferir o que escreviam, o que é uma atitude criminosa.



Essa dedução era pura bobagem, que poderia ter sido esclarecida se os repórteres que cobriram o caso tivessem cumprido sua obrigação fundamental — que é ouvir o outro lado, confirmar ou desmentir uma suspeita. Não.



Os anos se passaram. Palocci caiu em 2006 mas até hoje nenhum repórter ligou para Matheus Leitão, preferindo divulgar uma calúnia de modo despreocupado, com aquela leviandade que marca o mau jornalismo.



Hoje, no julgamento do STF, o nome de Matheus Leitão — que nunca recebeu crédito pela reportagem, nem deveria – voltou a ser mencionado no tribunal. Mais uma vez, ninguém se deu ao trabalho de conferir a notícia.



Em alguns casos, essa atitude é apenas prova de desinformação. Há jornalistas tão incompetentes que repetem erros dos outros, sem se dar conta que reproduzem mercadoria de má qualidade. Em outros casos, é puro espírito burocrático. A pessoa sabe que cometeu um erro — mas não quer assumir e prefere esconder a inverdade.



É uma covardia inacreditável.



Nós sabemos que não é a primeira vez que a imprensa comporta-se assim. A mídia já cometeu erros históricos, que, algumas vezes, mudaram o destino de povos e países.



O caso de Matheus Leitão envolve um indivíduo, um jovem jornalista, criado numa família de jornalistas.



Mas tenho a esperança de que, ao discutir um caso em que sua vítima é um jornalista, a mídia possa entender na própria pele que todo cuidado é pouco na hora de uma denúncia.

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