domingo, 1 de setembro de 2013

Importantes personalidades esquecidas

Museo de Arte do RS (Margs)
Theodor Wiederspahn, o alemão Theo, tido como o maior arquiteto gaúcho de todos os tempos, não serviu de nome para nada em Porto Alegre. Por outro lado, pessoas que pouco fizeram pela nossa cidade, ostentam seus nomes em placas de rua, obras, espaços públicos, escolas, entre outros, por obra de algum vereador amigo da família.

A nominação de logradouros virou uma banalidade na cidade. E isto que ainda restam mais de duas mil ruas sem identificação. Theo Wiederspahn foi o autor da Cervejaria Bopp, hoje o conhecido Shopping Total; o Edifício Ely, atual Tumelero; o nosso Margs e o Memorial do Rio Grande do Sul, antigo Correios e Telégrafos; Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura Mário Quintana; Faculdade de Medicina da UFRGS; Hospital Moinhos de Vento e uma enormidade de edificações aqui e no interior.

Atraiu muita inveja, ciúme e despeito. Por ser de origem alemã, mesmo estando integrado à vida dos pampas, sofreu perseguições políticas durante a segunda guerra. Por causa do desgosto e muito ressentido pelo tratamento que recebera, acabou entrando em depressão e morreu com 73 anos.

Joseph Franz Seraph Lutzenberger, pai do nosso ecologista José Lutzenberger, foi um arquiteto e artista muito marcante, mas nenhuma rua, nenhum espaço leva seu nome na Capital. A Igreja São José, de tantos e tantos matrimônios, é dele.  Na Rua Jacinto Gomes, 39, no Bairro Santana, temos a casa que ele fez para ele e a família. Mas se você passar pelo Pão dos Pobres e pelo Palácio do Comércio, lembre-se, estes são dele também.
Instituto Pão dos Pobres, de autoria de Lutzenberger

Marcos David Heckman, outro artista pouco lembrado. Recentemente, o amigo Milton Ribeiro, do Sul 21, lembrou de uma famosa obra dele que botaram abaixo pouco depois de construído, o Mata-borrão, que ficava nas esquinas da Av. Borges de Medeiros com a rua Andrade Neves.

Fernando Corona que disputou com Theo Wiederspahn a fama da arquitetura de nossa cidade é um dos poucos lembrados com uma rua perdida no Jardim Itu-Sabará. Além de arquiteto de mão cheia, foi escultor e diretor do Instituto de Artes. É autor do primeiro prédio modernista na cidade, o Edifício Guaspari, posteriormente esculhambado com um envelopamento duvidoso, na Praça XV. São dele o Santander Cultural, o Instituto Flores da Cunha, a Galeria Chaves e o Edifício Colonial da 24 de Outubro, no lado oposto do McDonalds. Imperdoável seria esquecer que o desenho da Fonte Talavera também é dele. E muito, muito mais.

Edifício Guaspari
Além dos famosos arquitetos alemães que vieram morar e trabalhar em Porto Alegre, nas primeiras décadas do século XX, como Theo Wiederspahn e Joseph Lutzenberger, arquitetos de outras nacionalidades também contribuíram para a formação do nosso patrimônio histórico. Entre estes, um arquiteto checo, da Boêmia, Josef Hrubý (em português, grafado sem acento, Hruby), teve um papel relevante para a imagem que temos da cidade. Muitas fábricas que hoje já não existem e importantes igrejas de Porto Alegre – como as da Sagrada Família, Nossa Senhora da Piedade, Glória, São Pedro e do Bom Conselho – são de autoria deste checo e integram a paisagem cotidiana e normalmente anônima da nossa cidade.

O engenheiro Manoel Barbosa Assumpção Itaqui fez o Viaduto Otávio Rocha, na Borges de Medeiros, com o seu colega Duilio Bernardi. É de autoria dele também o Observatório da Ufrgs, bem como a supervisão da Confeitaria Rocco.  Ambos também não têm nominações de nada e em nada na cidade.

Igreja São Pedro
Já o arquiteto João Moreira Maciel teve mais sorte, pois dá nome àquela rua que margeia o Guaíba, no Cais Navegantes, e vai dar na divisa com Canoas. É bom lembrar esta figura porque Porto Alegre é a primeira Capital do país a ter um Plano Diretor. No início do século XX, surgiu a primeira tentativa de organizar o crescimento da cidade com o arquiteto João Moreira Maciel propondo o "Plano Geral de Melhoramentos", que data de 26 de agosto de 1914. Apesar de ser um plano tipicamente viário, era baseado em princípios orientadores bem definidos.

Como estes citados, há outros tantos que precisamos lembrar e mostrar as suas contribuições para a arquitetura e urbanismo de nossa cidade. Mais do que nunca é preciso tratar deste tema, como da arte de rua, dos monumentos, da arte cemiterial. Não posso me furtar de fazer uma autocrítica, pois passei 16 anos na Câmara e nominei pouquíssimos logradouros da cidade. Sucumbi às criticas de que vereador só sabe "dar nome de rua". Equivoquei-me.

Não podemos deixar que Porto Alegre perca sua memória, seu passado moderno e ousado, sem as devidas marcações e lembranças.

Adeli Sell

3 comentários:

Angela disse...

Faltam outros.
Não recebo mais nada teu.

ADELI SELL disse...

Caro Adeli,

Realmente Porto Alegre desconhece seus grandes nomes na Arquitetura e Urbanismo, nomes históricos como os que citaste e nomes recentes, responsáveis por obras de cunho arquitetônico e urbanístico importantes , basta ver o primeiro PDDU, de 79, que tem no grande Moacir Moojen Marques, um de seus idealizadores, ser uma figura quase anônima, mesmo tendo criado prédios como o auditório Araujo Viana, a SMOV, o Clube do Professor Gaúcho, entre tantos outros.

O trabalho necessário de divulgação e ensino sobre a história e vida das cidades deveria ser objeto de estudo não somente das salas de arquitetura e urbanismo, mas sim em aulas de cidadania nas escolas municipais e estaduais de ensino médio. Com certeza, se a arquitetura e sua maneira de interagir com os usuários dos espaços urbanos fosse do conhecimento dos moradores da cidade, estes reagiriam diferentemente a esses espaços e poderíamos ter, em consequência disso, maior zelo e menos vandalismo. As ações promovidas para homenagear seus arquitetos, conferindo-lhes nome de ruas, não seria vista como “coisa de vereador que não tem mais o que fazer”, mas como reconhecimento por quem melhorou a vida das pessoas se tornou a cidade mais bonita.

A arquitetura é uma forma de arte e como tal consegue tocar alma humana e provocar sensações das mais variadas. É sensorial. As pessoas, na grande maioria, não se dão conta disso ao usufruírem dos espaços urbanos.

Inconscientemente criam suas referências internas e seus sentimentos. Por isso, muitas vezes, não percebem o quão isso influência em suas vidas, em seu humor, em seu cotidiano.

O bairro Teresópolis, quando a terceira perimetral cruzou, levando muitas casas, criando um corredor de alta velocidade no centro da avenida (não era par ser de alta velocidade, mas a educação dos motoristas não permite que seja de outra forma), levou muitos moradores antigos a um sentimento de tristeza, e perda, sem saber bem o que se passava com eles, mas diziam que quando iam ao mercado , na avenida, voltavam mais cansados e tristes da caminhadas, não sabiam explicar o porquê. Esses moradores viram seu bairro sofrer uma cirurgia urbana, necessária para cidade, mas feita sem a sensibilidade de avaliar como promover essa inserção num bairro bucólico e histórico. Algo se quebrou dentro de muitos moradores de Teresópolis, como as paredes de alvenaria que foram retiradas, levando consigo cores esmaecidas pelo tempo, flores de um velho jardim, gradis de ferro, varandas , “beirais com ninhos”...

Parabéns por divulgar a arquitetura e sua importância na vida da nossa cidade.


Abraço

LUIZ

Empresário e Arquiteto (não necessariamente nessa ordem!)

Anônimo disse...

Caro Adeli,

Realmente Porto Alegre desconhece seus grandes nomes na Arquitetura e Urbanismo, nomes históricos como os que citaste e nomes recentes, responsáveis por obras de cunho arquitetônico e urbanístico importantes , basta ver o primeiro PDDU, de 79, que tem no grande Moacir Moojen Marques, um de seus idealizadores, ser uma figura quase anônima, mesmo tendo criado prédios como o auditório Araujo Viana, a SMOV, o Clube do Professor Gaúcho, entre tantos outros.

O trabalho necessário de divulgação e ensino sobre a história e vida das cidades deveria ser objeto de estudo não somente das salas de arquitetura e urbanismo, mas sim em aulas de cidadania nas escolas municipais e estaduais de ensino médio. Com certeza, se a arquitetura e sua maneira de interagir com os usuários dos espaços urbanos fosse do conhecimento dos moradores da cidade, estes reagiriam diferentemente a esses espaços e poderíamos ter, em consequência disso, maior zelo e menos vandalismo. As ações promovidas para homenagear seus arquitetos, conferindo-lhes nome de ruas, não seria vista como “coisa de vereador que não tem mais o que fazer”, mas como reconhecimento por quem melhorou a vida das pessoas se tornou a cidade mais bonita.

A arquitetura é uma forma de arte e como tal consegue tocar alma humana e provocar sensações das mais variadas. É sensorial. As pessoas, na grande maioria, não se dão conta disso ao usufruírem dos espaços urbanos.

Inconscientemente criam suas referências internas e seus sentimentos. Por isso, muitas vezes, não percebem o quão isso influência em suas vidas, em seu humor, em seu cotidiano.

O bairro Teresópolis, quando a terceira perimetral cruzou, levando muitas casas, criando um corredor de alta velocidade no centro da avenida (não era par ser de alta velocidade, mas a educação dos motoristas não permite que seja de outra forma), levou muitos moradores antigos a um sentimento de tristeza, e perda, sem saber bem o que se passava com eles, mas diziam que quando iam ao mercado , na avenida, voltavam mais cansados e tristes da caminhadas, não sabiam explicar o porquê. Esses moradores viram seu bairro sofrer uma cirurgia urbana, necessária para cidade, mas feita sem a sensibilidade de avaliar como promover essa inserção num bairro bucólico e histórico. Algo se quebrou dentro de muitos moradores de Teresópolis, como as paredes de alvenaria que foram retiradas, levando consigo cores esmaecidas pelo tempo, flores de um velho jardim, gradis de ferro, varandas , “beirais com ninhos”...

Parabéns por divulgar a arquitetura e sua importância na vida da nossa cidade.


Abraço

LUIZ

Empresário e Arquiteto (não necessariamente nessa ordem!)