quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Estamos emporcalhando nossa cidade


A palavra “emporcalhar” vai gerar protestos, eu sei. Mas é isto que estamos fazendo com nossa capital. Quem se criou no campo, tratando porcos, sabe do que eu falo. Querem algo mais nojento do que chorume regando o asfalto, lambuzando nossos calçados com os quais entramos em nossas casas?

Querem algo mais asqueroso do que aquela montoeira de lixo espalhada ao lado dos contêineres? Caminhem pelo Centro Histórico. Na Riachuelo com a Marechal Floriano é impossível passar sem tapar o nariz, desviar o caminho e caminhar pelo meio da rua, porque toda a esquina está tomada de lixo. E não é só ali.

Milhares e milhares de porto-alegrenses absorvem diariamente pelas narinas o cheiro podre que exala dos contêineres implantados na nossa cidade. Em qualquer lugar moderno e civilizado tem contêineres para o lixo orgânico e outro para o lixo reciclável. Em Porto Alegre, não é assim.

Acreditava que esse cenário pudesse mudar com o anúncio de nova licitação proposta pela prefeitura, prevendo dobrar a quantidade de contêineres na cidade, passando dos atuais 1,2 mil, para 2,4 mil equipamentos. Será mantida, entretanto, a coleta única e exclusiva de resíduos orgânicos nestas unidades, o que todos sabem só ocorre na teoria.

Não é preciso ir longe para conhecer outra realidade bem diferente. Caxias do Sul, na serra gaúcha, dispõe de conteinerização diferenciada. Um para os resíduos orgânicos e outro para os recicláveis. E lá existe a lavagem dos contêineres de três em três dias. Por que não incorporar o que próximas fazem melhor do que nós?

Os mais velhos devem recordar com saudades dos anos 90, quando implantamos a coleta seletiva em Porto Alegre, beneficiando primeiramente o bairro Bom Fim. O programa foi progressivamente ampliado até agosto de 1996, quando todos os bairros passaram a ser atendidos. E como está agora?

Nem é preciso falar, porque todos veem que é uma zorra total. Faça-se justiça que o novo Diretor começou sua gestão fazendo algumas incursões corretas para debelar focos de lixo pela cidade.  Mas parece que nosso diretor está perdendo a batalha para o “emporcalhamento” da cidade, pelas razões que coloquei, somados aos erros administrativos e técnicos e por esta cultura de condescendência com os carrinheiros e carroceiros.

Também não dá para desdenhar o comportamento da população que teima em jogar lixo na rua. Por onde quer que se ande, montoeiras de latinha e papel, sem falar nas bitucas de cigarro que estão por todos os lados. Sem esquecer os chicletes que teimam em grudar nos nossos sapatos.  Tudo o que é inservível é descartado ali mesmo, sem se importar com a cidade, a limpeza, a estética, a saúde. Sim, saúde, porque isto não pode fazer bem a ninguém.

Pode parecer fruto de uma mente conservadora, mas o cuidado com a cidade exige uma disputa de espaço em que necessariamente deve ganhar o interesse da maioria: limpeza, iluminação, manutenção e acessibilidade. Mesmo a mais culta das criaturas poderá sucumbir ao meio e se permitir um papelzinho no chão quando num cenário de depredação. De que importa? É só uma bituca. Ou, infelizmente, eu não trouxe o saquinho. De maior ou menor gravidade, os crimes são cometidos diariamente, e isto só tem contribuído para uma concepção coletiva de impunidade e irrelevância com aquilo que é coletivo.

Sujeira gera sujeira, depredação gera mais depredação. O lixo largado nas ruas vai parar nos esgotos pluviais, gerando inundações a cada chuvarada. Como ensinar uma criança a não jogar lixo no chão, se o seu entorno está coberto de lixo alheio, tolerado e quase institucionalizado? O vandalismo e a sujeira são parceiros inseparáveis, bem como a percepção de insegurança da comunidade.

Cestos destruídos, lixo espalhados, monumentos roubados, cocô de cachorro nas calçadas, o encanto da cidade se perde, junto com o humor de quem não consegue andar sem sobressaltos pelas ruas. Mas Porto Alegre pode melhorar. Depende só de nós.

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