terça-feira, 20 de agosto de 2013

‘Não é preciso cargos para militar’, diz Olívio

Fonte: Jornal do Comércio 

Ex-governador do Estado apoia decisão do deputado Raul Pont de repensar sua atividade política

A decisão do deputado estadual Raul Pont (PT) de não concorrer mais a uma cadeira no Parlamento em função das falhas no sistema político repercutiram internamente no PT. O desencanto de Pont, motivado ainda pela dificuldade de produzir mudanças na própria legenda, se soma ao de outros petistas com grande representatividade, que, nos últimos anos, deixaram de concorrer a cargos eletivos para atuar na vida partidária, como o presidente de honra do PT estadual, Olívio Dutra (PT).

O dirigente apoia a decisão de Pont e aponta que não se disponibiliza a concorrer nas eleições pelos mesmos motivos que o correligionário: os problemas no sistema político. “Vejo nessa posição dele, que ele vem demonstrando há algum tempo, uma posição política séria, com o histórico dele de respeito à coisa pública e da construção de uma sociedade socialista e profundamente democrática. Ele defende conscientemente a transformação da política”, analisa.

Olívio destaca que há dificuldades de produzir mudanças na sociedade por meio de cargo eletivo “sem uma reforma política efetiva”. O ex-governador critica a maneira como o tema está sendo conduzido. “Essa reforma política não vai ser feita com uma composição política como a que temos. A disputa política vai estar sempre balizada pelo poder econômico, esperteza, maleabilidade das propostas, diminuição dos contornos ideológicos. E uma política nessa estrutura é uma enganação”, alerta.

Olívio, que não concorre desde 1998, quando se elegeu governador, afirma que “não se precisa ter cargos ou mandatos para ser militante”. O ex-governador salienta que Pont “dá exemplo” com a decisão de militar sem mandato. “Fazemos política no cotidiano das nossas vidas. E ele é um grande militante. Essa postura dele é provocativa, instigante e necessária para a construção do bem comum”, analisa Olívio, que rechaça quem “faz política só em períodos eleitorais”.

Olívio ainda salienta que deseja “dividir” o papel de presidente de honra do PT gaúcho com Pont. “Ele vai deixar de ser presidente político e não vai mais concorrer. Mas é figura muito importante na construção de uma proposta política de um partido como o PT, que não surgiu de cima para baixo e nem dos gabinetes dos Legislativos ou Executivos para transformar a própria política para ser a construção do bem comum com o protagonismo das pessoas, e não um toma lá da cá e essas coisas de empreguismo e pragmatismo”, aponta.

Outra liderança que está afastada da vida pública é Flávio Koutzii. Eleito pelo PT vereador de Porto Alegre em 1988, Koutzii obteve vaga na Assembleia Legislativa em 1990 e se destacou na articulação petista no Parlamento, sendo reeleito deputado estadual em 1994, 1998 e 2002. No primeiro ano do governo Tarso Genro (PT), deixou o cargo de secretário na Assessoria Superior, em que exercia papel de aconselhamento ao governador, alegando problemas pessoais.

O presidente do PT de Porto Alegre – principal reduto eleitoral de Pont –, Adeli Sell, lamenta a baixa na lista de candidatos petistas da Capital para as próximas eleições. Entretanto, vê com otimismo a militância sem cargos de lideranças populares da legenda. “É necessário renovar. E não significa que os mesmos não podem concorrer. Mas um momento fora do Parlamento pode ser positivo. Alguns comportamentos nos viciam”, reflete. “Se voltasse, faria muitas coisas diferentes e melhor.” Diferentemente de Pont e de Olívio, o presidente municipal do PT almeja voltar à Câmara Municipal e mantém o sonho de disputar a prefeitura de Porto Alegre.

Em cargo de assessoria no Gabinete dos Prefeitos, no âmbito do governo estadual, Adeli sente falta das atividades formais de um representante da população, mas ressalta sua contribuição como militante. “Estou afastado, mas não deixo de fazer política. Política também se faz no cotidiano, pensando a cidade e a sociedade. E isso eu estou fazendo.” O dirigente, que pretende deixar a presidência municipal do PT da Capital em novembro, sustenta ainda que Pont faz um “gesto nobre” ao renunciar à disputa pela reeleição.

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