Li com certa angústia este livro do educador e filósofo Mário Sérgio Cortella, publicado pela Editora Vozes em 2009, mas que só agora tive o prazer de ler. Um texto envolvente sobre as inquietações do mundo, pois após sua leitura o sujeito fica se perguntando se fez a coisa certa ou se sua vida é cheia de lacunas. Conheço pouco dele, e agora vejo que isto deixa uma brecha na minha formação. Há outras, sem dúvida.
Conhecia um pouco da trajetória de educador de Cortella, em especial, quando foi Secretário de Educação na capital paulista. Bisbilhotando livrarias como faço com frequência menor que a desejada, me deparei com este livro. Retoma um tema que está no Rebelais, no seu Gargantua, Pantagruel, no século XVI: "Conheço muitos que não puderam quando deviam porque não quiseram quando podiam". Ou seja, não fizeram a sua obra.
Neste livro o autor desmistifica conceitos e pré-conceitos, e define o líder espiritualizado como aquele que reconhece a própria obra e é capaz de edificá-la, buscando incessantemente o significado das coisas. Também encontramos inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética.
Nada mais atual.
Ele nos leva ao caminho das descobertas de que trabalho não deve ser um ato de tortura, mas sim um sentido para a nossa vida. Este processo é um aprendizado longo, permanente e mutante. O livro se aplica a qualquer pessoa que queira refletir um pouco sobre os valores do mundo contemporâneo, os dilemas éticos da vida corporativa e as questões práticas que envolvem trabalho e realização pessoal/profissional.
Mostra que ninguém nasce sabendo e nem se torna uma pessoa capaz e feliz da noite para o dia. O processo de construção tem momentos de tropeços, por óbvio, e precisamos ter capacidade de nos reinventar e isto se dá num processo de convivência familiar e social, no mundo do trabalho e no lazer.
Segundo Cortella, autor de livros como "Não Espere Pelo Epitáfio" e "Não Nascemos Prontos", um líder, alguém que deixa uma obra marcante, é aquele que consegue enxergar o outro e não encará-lo como um estranho.
Aquele que não ouve e não enxerga o outro é um arrogante, um narcisista que só fala e ouve o que ele mesmo crê. Este nunca será um líder, será sempre um arremedo. É destas pessoas que muitas vezes temos medo. Mas é preciso descartá-las de nossas relações, pois com elas pouco se aprende.
Nada é feito com cautela imobilizadora, nem com ímpeto inconsequente. Pense na sua gestão pessoal e na gestão de pessoas. O fundamental é chegar ao essencial. Não caminhe sempre pelo mesmo caminho. Trate de buscar satisfazer sua obra, a equipe, o grupo com quem você lida, mas não se dê por satisfeito. A satisfação paralisa, adormece, entorpece.
Olhe para o outro. Enxergue-o. Analise-o. Os tempos são velozes, e tudo muda. Atualize-se. É preciso fazer o seu melhor.
Cortella vai fundo ao afirmar que "líder é aquele que inspira, que anima as pessoas a se sentirem bem com o que fazem e a sentirem integradas à orbi". E tudo isto passa pela ética. Palavrinha mais do que banalizada, mas que nós não podemos esquecer, mas sim integrá-la ao nosso ser, sem esquecer-se das palavras sábias da Rainha Vitória: "a vida é muita curta para ser pequena".
Se tivermos a ideia de que somos mortais vamos construir uma obra perene, que ficará para o futuro.
Afinal, qual é a tua obra?
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