sexta-feira, 25 de março de 2011

Devolvam minha cidade

Autor: Mário Verdi

24.03.2011
Urbanização desordenada, grafite, equipamentos urbanos mal projetados e inoperantes, abuso na identificação de estabelecimentos comerciais e, por fim, a mídia exterior com seus cartazes, painéis, outdoors e telões eletrônicos gigantes. Esses são alguns dos sintomas da degradação da paisagem urbana de nossa cidade.
Dentre os agentes causadores da poluição visual, a mídia exterior é a que mais preocupa. Hoje, o número de faces de mídia na capital gaúcha é quase 10 vezes maior que há 10 anos. O abuso da apropriação do espaço público parece não ter limites. Estima-se que em torno de 70% das faces existentes na grande Porto Alegre não estão em conformidade com as leis ou não possuem sequer autorização para instalação.
Não existem dados precisos sobre o assunto, pois nem mesmo os órgãos competentes estão totalmente cientes da realidade atual. Um cálculo aproximado indica que uma área equivalente ao Parque da Redenção, mais de 350 mil metros quadrados, está bloqueada por veículos de publicidade ao ar livre. E não se trata apenas de descumprimento de leis. O problema também interfere na saúde e qualidade de vida da população e até mesmo na disseminação de atos criminosos, como a pichação e a depredação do patrimônio público e privado.
Fomos treinados a decodificar e interpretar certos códigos, como o alfabeto, os números e as cores. Sempre que nosso mecanismo ocular capta esses códigos, ocorre o processo de decodificação e interpretação, mesmo que de forma involuntária, inconsciente. Este excesso de informação e desordem pode resultar em irritabilidade, cansaço, estresse, dificuldade de atenção, dores de cabeça e fadiga da visão. Além disto, o ambiente carregado e poluído transmite a sensação de abandono do poder público, influenciando na ocorrência de atos ilícitos e aumento da criminalidade.
Comparando o ruído visual à poluição sonora, trafegar em nossas ruas seria como estar num ambiente onde uma centena de pessoas passa o dia gritando, clamando por nossa atenção. E não temos como escapar. Podemos escolher se queremos ou não ficar expostos aos anúncios de revistas, jornais e televisão, mas a propaganda ao ar livre não nos dá esse direito. É compulsória e invasiva.
Conclamamos a sociedade a discutir este assunto, que impacta diretamente na qualidade de vida da população e na percepção de valor de nossa cidade. Caso contrário, corremos o risco de que novas iniciativas e melhorias relacionadas ao urbanismo tenham sua eficácia comprometida pelo excesso de interferências que carregam o visual de nossa Porto Alegre.
*DESIGNER E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS EM DESIGN DO RIO GRANDE DO SUL (APDESIGN)
Fonte:
Zero Hora

Nenhum comentário: