sexta-feira, 10 de maio de 2013

Em restaurante não tem "recall"


É tudo parecido. Em fábrica de automóvel, assim como em restaurante tem "linha de montagem". As coisas tem que ser feitas concatenadamente. Um carro pronto deve andar e dar conforto ao usuário. Um prato de comida precisa agradar e saciar a fome do cliente. É, talvez, aí que começam as diferenças.

Havia um tempo em que o sonho de um trabalhador fabril era ser funcionário de uma montadora. Já a gurizada do interior, ao chegar em Porto Alegre, festejava numa carta aos pais que trabalhava numa lanchonete ou numa churrascaria.

Se a cultura brasileira fosse uma cultura de trabalho, qualquer afazer alcançado deveria ser gratificante. Seja limpando o chão de um hotel ou montando um computador na atualidade. Mas como temos uma herança ibérica, ainda acreditamos que meter a mão na massa é algo avesso. É a modernidade líquida de que Zygmunt Bauman nos fala, onde a tradição ibérica agrega valor ao trabalho intelectual e a "feiura" ao braçal.

É claro que as coisas vão mudando. Os jornais anunciam que temos pleno emprego em Porto Alegre, dando condições de as pessoas escolherem seu trabalho. É fato. Mas também é verdade que "as pessoas andam pulando de galho em galho". Sem reflexões, trocam um emprego por outro por quaisquer reais a mais.

Nosso empresário necessita trabalhar melhor o seu funcionário. Já pensou em proporcionar uma oficina sobre o mundo do trabalho com sua trupe? Pois seu atendente, sua cozinheira, seus parceiros de jornada, tem que saber que não tem recall em restaurante. O sujeito até poderá devolver um prato, mas a regra é o sujeito comer, fazer cara feia, pagar com má vontade e sair falando mal. Ademais, com as redes sociais, ele posta o que bem quiser. E você vai correr atrás do prejuízo.

Comecei a observar uma enxurrada de pessoas nos finais de semana, especialmente nos locais com maior afluxo de pessoas. Tem muita gente trocando a galinha assada da esquina por uma ida ao restaurante. E é neste momento que precisamos qualificar o atendimento e fazer com que os profissionais do segmento de bares e restaurantes tenham a oportunidade de mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes de forma a gerar resultados que se traduzam na consolidação de uma relação de fidelidade.

Quando vamos a uma concessionária comprar um carro temos a impressão que o vendedor é um piloto de fórmula 1. Ele consegue falar com a maior empolgação sobre como são especiais as velas e sistema de embreagem daquele carro. Ele tem obrigação de saber. Uma equipe de garçons deve ser assim. Deve saber exatamente como são preparados os pratos.

Seja um restaurante à la carte, uma lanchonete fast food ou uma loja de roupas, a qualidade do atendimento ao cliente deve ser prioridade para o empresário. Afinal, o sucesso do empreendimento depende totalmente da clientela, que é exigente e gosta de ser bem tratada.

Invista no setor de Recursos Humanos. Faça "formação técnico-profissional", mas gaste um pouco em Humanidades, num curso de língua, numa reciclagem. Pois como dizia o mestre Paulo Freire: "Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Por isso aprendemos sempre."

Sou defensor de criar no setor de gastronomia de Porto Alegre um espaço de grandes debates e trocas de opiniões, seja de forma presencial ou à distância. Aposto que as entidades representativas do setor acharão a melhor forma de fazê-lo.

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