Mesa redonda contou com a participação dos cientistas políticos Benedito Tadeu César e Ilton Freitas |
“Esse debate sobre o que representa na atualidade os partidos políticos é fundamental”, observou Adeli. Na avaliação do dirigente, criou-se uma onda no país que os movimentos sociais e contestatórios se dão pelas redes sociais. “Reconhecemos a importância das redes, mas sabemos que as mobilizações se dão na sociedade civil organizada, dos tradicionais sindicatos, passando pelas organizações não governamentais e partidos políticos”, sustentou.
Para entender esta provável crise de representação, Ilton Freitas citou Otto Kirchheimer, estudioso que em 1966 publicou um trabalho afirmando que os partidos de massa eram uma etapa em direção aos partidos eleitorais modernos. Isso, segundo ele, não pressupunha o desligamento dos partidos com a antiga base social, mas que eles se abriam para um público mais amplo, buscando outros grupos sociais.
“Aspectos importantes dessa transformação asseguram uma acentuada desideologização, o que diminui o peso político da militância, garante uma maior abertura junto a grupos de interesse com ligações mais fracas com a organização partidária; fortalece o poder organizativo dos dirigentes; enfraquece a relação partido/eleitorado, fazendo com que os partidos deixem de ser parte da sociedade para tornarem-se parte do Estado”, elencou Freitas.
Conforme os números apresentados pelo cientista político, apenas 22% dos latino-americanos confiam na política e 32% acreditam nos parlamentos/congressos. Freitas também fez uma comparação entre Partido Burocrático de Massa x Partido Profissional Eleitoral. O primeiro sustenta-se por uma centralização burocrática por competência político-administrativa, já o segundo por uma centralização dos profissionais por competências especializadas. No Partido Burocrático de Massa temos uma predominância dos dirigentes internos, direções colegiadas, enquanto que no Partido Profissional Eleitoral notamos uma predominância de parlamentares e figuras públicas, com suas direções personalizadas. O financiamento também se difere. No primeiro se dá por meio de filiações e atividades colaterais. Já no segundo por meio de grupos de interesses e fundos públicos.
Crise de representação
As causas da afirmação dos partidos eleitorais profissionais são diversas. Freitas citou duas: as transformações no mundo do trabalho e suas repercussões nos sistemas de estratificação social e a transformação estrutural da esfera pública, com a televisão redesenhando a organização partidária e acentuando o peso dos parlamentares em detrimento dos dirigentes e militantes, apontou ele ao assegurar que a crise dos partidos não consiste na crise das suas funções.
“A crise consiste num projeto de marginação, pois o partido profissional-eleitoral deve lidar com identidades coletivas instáveis. Este vazio de identidade coletiva produz dois efeitos: apatia política e a in capacidade autônoma de seleção das elites”.
Freitas também acredita que a sociedade não está passando por uma crise de representação propriamente dita. O que está havendo é a soma de elementos novos ao atual modelo. Segundo ele, o formato de governo representativo que hoje está nascendo se caracteriza pela presença de um novo protagonista, o eleitor flutuante, e pela existência de um novo fórum, os meios de comunicação de massa.
“Quando se reconhece a existência de uma diferença fundamental entre governo representativo e autogoverno do povo, o fenômeno atual deixa de ser visto como sinalizador de uma crise de representação e passa a ser interpretado como um deslocamento e um rearranjo da mesma combinação de elementos que sempre esteve presente desde o final do século XVIII”.
Crise dos Partidos
Para o também cientista político Benedito Tadeu Cesar, os partidos nunca foram de massa. Pelo contrário, foram eleitorais. “Prova disto é que o Brasil é o primeiro país no mundo a institucionalizar o partido político, pois o coloca na constituição”.
Tadeu Cesar lembrou que partido é uma sociedade de direito privado, assim como sindicatos e outras entidades, que existe para disputar o poder do Estado. E essa mudança de caráter das legendas que presenciamos hoje acompanha a transformação da sociedade, que com o crescimento da classe média não está mais preocupada com a revolução das siglas, mas sim com o consumo e o bem-estar social.
“Essa nova realidade irá forçar a mudança dos partidos políticos”, opinou Tadeu Cesar, ao ressaltar que “não estamos passando por uma crise de representação política, mas sim uma crise na forma de fazer política”, disse ele.
Mas, e para onde iremos? Tadeu Cesar foi taxativo. Os partidos atuais viraram partidos de governo e não conseguem mais mobilizar a militância além dos profissionais da política, ou seja, aquelas pessoas que vivem da política para o seu sustento. “Além do mais, esses profissionais da política se perpetuam nos governos. Há exemplos de sujeitos que integram três, quatro administrações distintas”, criticou.
Fato é que o partido profissional-eleitoral criou um vazio de identidades coletivas. O eleitor é mais independe por um lado, por outro, se torna mais solitário e desorientado. Esse mal-estar social gerado pelos partidos é resultado da perda de credibilidade e de atração das antigas estruturas de solidariedade.
Por Tatiana Feldens
Nenhum comentário:
Postar um comentário