segunda-feira, 9 de abril de 2012

Histórias de Porto Alegre - Por Fernando Malheiros Filho

Começo hoje a publicar algumas crônicas e escritos do advogado Fernando Malheiros Filho sobre a cidade de Porto Alegre.

Façam uma boa leitura.

Adeli Sell


BREVISSIMA HISTÓRIA DE PORTO ALEGRE


Fernando Malheiros Filho

Com relação à história de Porto Alegre, creio que não é possível começar sem citar a grande figura de Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos, destinatário, a 5 de novembro de 1740, de carta de sesmaria por Gomes Freire de Andrada, que em nome do rei de Portugal deu-lhe posse da gleba de terra, com sete léguas de frente, da foz do Gravataí ao Jacareí, onde providenciou o primeiro aldeamento, no local primitivamente chamado Porto do Dorneles. Jerônimo de Ornelas deixou a área em 1752, mudando-se para Triunfo, quando teve suas terras desapropriadas para a chegada dos casais açorianos, que deram início à conhecida colonização, que até hoje, de alguma forma, marca a história da cidade.


Creio que também merece atenção a figura de José Marcelino de Figueiredo, pseudônimo do Visconde de Sepúlveda, militar lusitano que deixou Portugal para se homiziar no Brasil após matar em duelo um oficial inglês que invectivara a pátria portuguesa. Coube a José Marcelino, que foi primitivamente nomeado a 9 de março de 1769, importante administração local, sendo dele a iniciativa de transferir a capital da província de Viamão para o Porto dos Casais. Conta-se que, tendo os edis resistido à mudança, José Marcelino mandou retê-los (prendê-los) aqui após uma sessão da Câmara (em 1773).


A população de Porto Alegre, de 1740, quando aqui residiam 100 almas, pulou o para o número de 12.200 almas em 1833.


No ano de 1820, mais precisamente a partir 21 de junho, esteve em Porto Alegre o cientista Auguste de Saint-Hilaire, que descreve em sua famosa obra “A viagem ao Rio Grande do Sul”, a cidade que encontrou naquela oportunidade e onde permaneceu até o dia 27 de Julho. Dos apontamentos do cientista francês, extraem-se as seguintes impressões: “Ao entrar nesta cidade, surpreendeu-me o seu movimento, bem como o grande número de casas de dois andares que ladeiam as ruas e a quantidade de brancos aqui existentes. Vêem-se pouquíssimos mulatos. A população se compõe de pretos escravos e de brancos, em número muito mais considerável, que se constituem de homens grandes, belos, robustos, tendo a maior parte da pele corada e os cabelos castanhos. Fácil perceber-se, desde o primeiro instante, que Porto Alegre é uma cidade nova: todas as casas são novas, e muitas ainda em construção. Mas, depois do Rio de Janeiro, não tinha ainda visto uma cidade tão imunda, talvez mesmo capital não o seja tanto.”


Porto Alegre também teria um papel relevante durante a revolução Farroupilha, posto que foi junto à ponte da Azenha que tiveram início as hostilidades, no dia 20 de setembro de 1835, seguindo-se a invasão da cidade, no dia 25, pelo general Bento Gonçalves da Silva.


Durante a revolução Farroupilha, em Porto Alegre predominou a resistência aos revoltosos, visto que a manutenção da cidade em mãos dos sediciosos durou pouco tempo, voltando a província para administração imperial, mas que foi cercada pelos revolucionários, mantendo-se sitiada até o ano de 1840.


Das edificações que ornavam a cidade no século 19, poucas ainda mantém-se erguidas, como é o caso do Teatro São Pedro, concluído em 1860, época em que os seus 600 lugares podiam acomodar 1% da população local. Merece também referência o prédio que Assembléia Legislativa ocupou a partir de 1880, mas que foi construído em 1772, onde se instalou inicialmente a Tesouraria Real da Fazenda, situado na atual Rua Duque de Caxias, recentemente reincorporado ao patrimônio do Legislativo Estadual.


Entre os anos de 1863 e 1864, Porto Alegre foi palco da atuação de um famoso homicida em série, posteriormente celebrizado, que não se contentava em matar e esquartejar suas vítimas, transformando-as em deliciosas lingüiças, tetricamente vendidas e apreciadas pela população local. Trata-se da figura de José Ramos, famoso canibal da Rua do Arvoredo (hoje Fernando Machado).


Foi também a partir de Porto Alegre que os dois grandes líderes Republicanos, na pessoa de Júlio Prates de Castilhos e Antônio Augusto Borges de Medeiros, governaram o Estado do Rio Grande do Sul e comandaram a resistência aos dois sangrentos levantes, de 1893, que ficou conhecido como a Revolução Federalista, e de 1923.


Dentre os intendentes e prefeitos municipais, destaca-se, exemplificativamente, José Montaury de Aguiar Leitão, que governou a cidade por 27 anos, desde que 15 de março de 1897, quando foi nomeado por Borges de Medeiros, até 1924. Igualmente merece atenção a figura de Otávio Rocha, eleito e empossado a 14 de outubro de 1924, que faleceu no exercício do cargo.


Grande figura humana e política, Loureiro da Silva, foi prefeito municipal entre 1937-1943 e 1960-1963, cabendo-lhe a tarefa hercúlea de remodelar a face da cidade, promovendo incontáveis obras urbanas, seja de infra-estrutura, como viárias entre as quais destaca-se a abertura da Av. Farrapos. Loureiro da Silva é o artífice da transformação da cidade, de apequenada província em uma verdadeira metrópole. Loureiro da Silva faleceu em 1964, quando transitava pela cidade cujas feições modelou, na Rua da Praia, fulminado por um colapso cardíaco.


Também coube a Porto Alegre sediar o estopim da revolução de 30, daqui partindo as forças militares revoltosas, a 3 de outubro daquele ano, chefiadas por Getúlio Dornelles Vargas, que chegaram no Rio de Janeiro no dia 24 de outubro para instaurar uma nova ordem, de grande relevância para a história do Brasil.


A proximidade com o Rio Guaíba, que confere a Porto Alegre parte de sua identidade e faz parte de inefável sua paisagem, sempre deixou vulnerável o burgo às enchentes e inundações. Várias são as anotações, desde meados do século 19, de inundações ocorridas em 1824, 1833, 1847, 1850, 1873, 1897, 1905, 1912, 1914, 1928 e 1936, que provocaram maiores ou menores estragos. Contudo coube à maior e última das grandes enchentes, a de 1941, o trauma de maior magnitude para a comunidade. A partir do dia 10 de abril daquele ano até 14 de maio, 22 dias de chuva castigaram a cidade, que se viu coberta por água, especialmente no centro que na época tinha a maior densidade populacional. Foram mais de 40.000 flagelados e o desastre despertou a comunidade e as autoridades para a necessidade de providências para que fossem evitadas novas ocorrências da mesma natureza e gravidade.

Boa leitura.

Fernando Malheiros Filho-advº

Rua dos Andradas, 932 - cj. 707

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