domingo, 29 de agosto de 2010

“A vida dos outros”

O jornal Folha de S.Paulo publicou, no dias 5 de agosto, matéria com o titulo Vídeo em site tucano critica indenização por ditadura.

Afirma que o vídeo, publicado com destaque no site oficial da campanha de José Serra critica políticos que "se gabam de ter lutado contra a ditadura, mas pedem dinheiro, contraprestação por suas lutas".

Sob o título Patriota, diz o vídeo: "Serra? Serra não. Nunca pediu dinheiro algum. Lutou pelo amor que sempre teve pelo nosso país, abriu mão de tudo isso para esse dinheiro ser voltado para a educação".

Não se duvida do patriotismo de Serra, mas o que dizer então de Dilma, que abriu mão da própria vida para lutar por justiça e liberdade? Foi presa e torturada sim e as indenizações que possa ter recebido dos estados onde ficou presa são valores que, simbolicamente, buscam afirmar o repúdio à tortura praticada pela ditadura.

Aqueles que não têm idéia dos sacrifícios de uma vida clandestina deveriam apenas calar. A anistia é um direito conquistado, reconhecido pelo Congresso Nacional ainda no governo FHC. Sua concessão gera polêmica, mas é torpe ser usada como acusação pelos serristas.

A matéria informa que a comissão de anistia reconheceu Serra como anistiado político em dezembro de 2002. Mas não se deu ao trabalho de informar o que pediu e o que ganhou aquele que chama de patriota – e tampouco esclarece de que dinheiro abriu mão para a educação. Seria uma doação? É o que parecem querer dizer os serristas.

Não sei da vida pessoal de Serra, e o que fazia antes de ser candidato a presidente em 2002. Sei que se aposentou como professor da Unicamp – mas não sei quando e como. Ao perder a eleição em 2002, parece que decidiu ajeitar sua vida, e recorreu à Comissão de Anistia – direito seu e de todos os que foram perseguidos pela ditadura.

Nada mais justo, se Serra tivesse tido a dignidade de seguir os trâmites normais, que na maior parte das vezes significa alguns anos na fila de votação. Mas ao que parece, a pressa era muita!

Vejamos as informações que a folha e os serristas não divulgaram e que estão disponíveis no site da Comissão de Anistia.

Serra entrou com pedido na Comissão de Anistia no dia 06 de dezembro de 2002. Três dias depois, seu requerimento foi aprovado e dez dias depois foi publicado. Dentre as dezenas de milhares de requerimentos, creio que essa agilidade é um recorde absoluto!

Não sei o que Serra pediu, nem se usou, em sua aposentadoria, esse tempo que lhe foi concedido, mas é muito estranha a contagem de tempo de serviço não ser contínua e, excetuando o ano de 1975, terminar em fevereiro de 1978, conforme publicação no Diário Oficial da União. De sua biografia, consta que em março de 1978 voltara do exílio e trabalhava no Brasil.

Além de ter usado seu poder e sua influência para furar a fila e agilizar a votação e publicação de sua portaria, Serra e os serristas poderiam explicar porque tanta pressa e ainda o porquê dessa portaria com tão estranha concessão de tempo de serviço – pagina 79 do DOU de 19/12/2002.

Nº Processo               Requerente         CPF         Relator        Data Protocolo   Data Autuação

2002. 01 . 12995         José Serra                                                    6/12/2002         6/12/2002


PORTARIA Nº 2.543, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2002

O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso de suas atribuições legais, com fulcro no artigo 10 da Lei n.º 10.559, de 13 de novembro de 2002, publicada no Diário Oficial de 14 de novembro de 2002 e considerando o resultado do julgamento proferido pelo Plenário da Comissão de Anistia, na sessão realizada no dia 09 de dezembro de 2002, no Requerimento de Anistia n.º 2002.01.12995, resolve:

Declarar JOSÉ SERRA anistiado político e conceder-lhe a contagem de tempo de serviço de janeiro de 1966 a fevereiro de 1978, excluindo-se o ano de 1975 totalizando 11 anos e 29 dias.

PAULO DE TARSO RAMOS RIBEIRO
E, principalmente, deveriam lembrar os serristas que a dignidade de Dilma Roussef está a mil anos luz das torpezas que possam praticar ou sequer imaginar para tentar fazer subir nas pesquisas o candidato que, novamente, concorre à presidência.

Por Suzana Keniger Lisbôa,
em 27 de agosto de 2010

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