quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SOLIDARIEDADE A PROFESSORA MARIA DENISE

Prezados colegas,


Cada um de nós professores, diretores, trabalhadores em educação, conhecemos muito bem as dificuldades do dia-a-dia no chão da escola. São inúmeros os desgastes físicos, emocionais, psicológicos, pessoais e materiais. E, é praticamente um consenso, a falta de apoio de governantes e da sociedade. Somos uma categoria profissional que enfrenta todas as mazelas de uma sociedade desigual, que suga até a medula do trabalhador em benefício de uns poucos privilegiados.
Administrar uma escola pública, por menor que seja, não é uma tarefa para qualquer um. Não basta ser honesto e diligente, conhecer a legislação e as teorias e métodos pedagógicos. É preciso, sobretudo, ter coragem para enfrentar uma realidade de sucateamento dos serviços públicos em geral e da escola em particular. Já é, infelizmente, uma tradição as quermesses, os bingos, as rifas, a correria das diretoras e diretores "passando o pires" junto a empresas e à comunidade para levantar uns trocados que permitam manter a escola minimamente em condições de atender os estudantes. É comum saber-se de professoras que compram giz, papel, etc., com recursos tirados dos seus minguados salários. Coisas que os governos, em todas as esferas deveriam fazer e não fazem!
Além disto, somos psicólogos, terapeutas, pais, mães, segurança e, se sobrar tempo, professores.
Lendo os jornais de 22 e 23 do corrente, mais uma vez assistimos o ataque covarde desfechado contra mais uma professora. A "bola da vez" é a professora Maria Denise Bandeira, vice diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Barão de Lucena. O motivo? A professora fez um aluno pintar as paredes das salas de aula por ele pichadas. A escola recém havia sido pintada em regime de mutirão pela comunidade. Sim, porque se fosse esperar pela mantenedora... E o adolescente, como seu pai afirmou aos jornais, "só escreveu o nome dele na parede da sala de aula". Será que esse garoto costuma escrever o nomezinho dele nas paredes da sala de casa? Nas paredes do quarto dos pais?
E, agora, a professora é apontada como a errada na história. Fica claro, pela matéria de Zero Hora, a pressão para que a 28.ª CRE aplique uma ADVERTÊNCIA (!!!) à professora porque ela teria "humilhado" o escriba. A pressão é tamanha que a própria professora acaba admitindo que se excedeu ao chamar o rapazinho de "bobo da corte". Os "especialistas" de sempre, que ficam com o traseiro sentado nos gabinetes elucubrando teorias pedagógicas no mais das vezes absurdamente distantes da realidade concreta da escola, na sua maioria, opinam pelo "excesso" cometido pela professora.
Francamente, assisti o vídeo e não consigo ver razão para tamanha celeuma, a não ser na intenção de, mais uma vez, "criminalizar" uma professora que procura fazer um pouco daquilo que muitos pais não fazem, porque não querem ou porque estão impotentes diante de certas tiranias adolescentes: IMPOR LIMITES! IMPOR RESPEITO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO!
O "bobo da corte", escrito assim, destacado do contexto (assistam o vídeo em www.zerohora.com) em que foi dito pode parecer um excesso da professora. Como sempre faz, a mídia descontextualiza para manipular. E, claro, alguns pais aproveitam para fazer média com seus filhos. Tentam suprir com panos quentes o carinho e o pulso firme que falta no cotidiano.
Assim, proponho que todas as escolas do estado, todos os trabalhadores em educação, o CPERS, enviem e-mails, telefonem para a SE, para a 28.ª CRE e se solidarizem com a colega Maria Denise.
Não podemos permitir que quem defende o patrimônio público mantido a duras penas - não esqueçam que a professora participou com a comunidade em um muitrão em pleno feriadão de 7 de setembro, quando poderia estar descansando e desfrutando do convívio com a família !!! - seja punido para satisfazer a pressão da mídia que gosta muito de falar em nosso nome, em nome da sociedade.




RUY GUIMARÃES
Professor de História
Diretor da E.E.E.M. Padre Reus
Conselheiro 1/1000 do CPERS-Sindicato

Um comentário:

Unknown disse...

Sou professor de uma escola estadual em Gravataí e gostaria de dizer que concordo plenamente com as palavras do professor Ruy Guimarães, que define com muita clareza a situação que, os professores e até mesmo os alunos "educados", enfrentam nas escolas públicas. A professora Maria Denise é uma verdadeira educadora!É preciso fazer desse limão uma limonada!Precisamos mostrar às pessoas que não vivem a realidade de uma escola pública o que precisamos fazer para defender o patrimônio público e muitas vezes o nosso próprio respeito!
Prof. Alex