domingo, 18 de agosto de 2013

Internet representa um novo patamar comunicacional para a humanidade, afirma Ilton Freitas em Almoço Temático

Ilton Freitas é cientista político da UFRGS
Mais uma edição dos almoços temáticos foi realizada nesta última sexta-feira. Desta vez para discutir a suposta crise de representação e o futuro dos partidos políticos.  Ilton Freitas, cientista político, pesquisador associado do CEGOV/UFRGS, admite que a representação política tem sido objeto de controvérsia no país. Por outro lado, acredita que há concordância sobre o fato de que não existe representação quando os governantes não são periodicamente eleitos.

Para entender esta provável crise de representação, Ilton Freitas citou Otto Kirchheimer, estudioso que em 1966 publicou um trabalho afirmando que os partidos de massa eram uma etapa em direção aos partidos eleitorais modernos. Isso, segundo ele, não pressupunha o desligamento dos partidos com a antiga base social, mas que eles se abriam para um público mais amplo, buscando outros grupos sociais.

“Aspectos importantes dessa transformação asseguram uma acentuada desideologização, o que diminui o peso político da militância, garante uma maior abertura junto a grupos de interesse com ligações mais fracas com a organização partidária; fortalece o poder organizativo dos dirigentes; enfraquece a relação partido/eleitorado, fazendo com que os partidos deixem de ser parte da sociedade para tornarem-se parte do Estado”, elencou Freitas.

As causas da afirmação dos partidos eleitorais profissionais são diversas. Freitas citou duas: as transformações no mundo do trabalho e suas repercussões nos sistemas de estratificação social e a transformação estrutural da esfera pública, com a televisão redesenhando a organização partidária e acentuando o peso dos parlamentares em detrimento dos dirigentes e militantes, apontou ele ao assegurar que a crise dos partidos não consiste na crise das suas funções.

“A crise consiste num projeto de marginação, pois o partido profissional-eleitoral deve lidar com identidades coletivas instáveis. Este vazio de identidade coletiva produz dois efeitos: apatia política e a incapacidade autônoma de seleção das elites”.

Freitas também acredita que a sociedade não está passando por uma crise de representação propriamente dita. O que está havendo é a soma de elementos novos ao atual modelo. Segundo ele, o formato de governo representativo que hoje está nascendo se caracteriza pela presença de um novo protagonista, o eleitor flutuante, e pela existência de um novo fórum, os meios de comunicação de massa.

“Quando se reconhece a existência de uma diferença fundamental entre governo representativo e autogoverno do povo, o fenômeno atual deixa de ser visto como sinalizador de uma crise de representação e passa a ser interpretado como um deslocamento e um rearranjo da mesma combinação de elementos que sempre esteve presente desde o final do século XVIII”.

Internet
Objeto de seu estudo acadêmico, a internet, segundo Freitas, representa um novo patamar comunicacional para a humanidade. E nesse sentido ter acesso à rede deve ser compreendido como um novo direito social. “Num certo modo a internet representa a possibilidade de renovação da esfera pública, posto que a opinião pública contemporânea foi colonizada pelas empresas midiáticas de massas, sobretudo a televisão. Contudo, a web 2.0 e suas redes sociais a destarte de permitirem uma maior circulação das informações vem se demonstrando muito menos como um ambiente de conversação cívica, e muito mais como um veículo de mobilização coletiva”.

O também cientista político Rodrigo Campos comparou o eleitor da atualidade com o consumidor e criticou a mídia, que segundo ele, media de forma parcial essa relação do eleitor com o sistema político. “Boa parte da indústria cultural usa a mesma adjetivação. O refrão de caracterizações de personagens da política se repete. Mudado a orientação ideológica, mudam os adjetivos políticos”, sinalizou.

Campos recordou a eleição de 2006, quando a blogosfera cumpriu um papel importante na campanha à reeleição do ex-presidente Lula. “Hoje, a produção de conteúdos de uma forma autônoma deve ser utilizada para contrapor a informação imposta pela grande mídia”, opinou.

O próximo almoço temático será realizado no dia 30 de agosto com Claudia Antonini. Na pauta, política internacional. As adesões podem ser feitas pelo telefone 3211 4888.

Por Tatiana Feldens, Asscom PT-POA

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