Coluna Ana Mello - Não basta ser mulher
Com tantas mulheres assumindo cargos importantes e tantas outras
se destacando em várias atividades que antes eram desenvolvidas
apenas por homens, criou-se uma expectativa positiva em torno do trabalho
da mulher. Não só do trabalho, do desempenho em qualquer atividade
e até na vida. Mas não basta ser mulher, é preciso ter atitude.
Também não é por ser mulher que você tem que dar conta de tudo,
levar e buscar as crianças no colégio, trabalhar 9h por dia no escritório,
cozinhar, lavar, passar e ainda parecer linda, feliz e satisfeita.
Trabalhar demais e não ter um tempo para simplesmente descansar
e fazer o que temos vontade, só nos faz doentes. Nós estamos exercendo
muitas atividades e isso está entrando para a lista de normal.
Parece que é natural para qualquer mulher exercer dupla ou tripla jornada
de trabalho e ter que suportar. Ninguém é igual e as pessoas precisam
de tempos diferentes. Essa coisa dos tempos modernos de fazer tudo
e tudo rápido está precisando de uns pontos e vírgulas. Até com as crianças
esse exagero de ocupação está entrando na rotina. Um menino do prédio
ao lado do meu comentou que não andava mais de bicicleta porque
não tinha tempo. Tinha escola, aula de inglês, informática, natação e judô.
Ficava cansado para sair de casa nos horários livres. Até eu me cansei
desta programação. Lembrei-me de uma amiga que durante a semana
enlouquecia fazendo uma programação de atividades para os filhos
no fim de semana. Não ficava nenhum momento livre, era cinema,
parque, circo, shopping entre outras atividades. Algumas muito legais
e divertidas, mas eles nunca ficavam simplesmente em casa, de pijama,
assistindo televisão, jogando com a família. Que estresse ter que ficar
ocupado sempre.
Algumas pessoas quando saem de férias têm problema para ficar
sem fazer nada, ficam procurando atividades, planejando o dia
logo de manhã. Neste contexto muito doido de se ocupar ou parecer ocupado,
as mulheres são as que mais sofrem porque se sentem obrigadas
ou cobradas a não falhar.
Uma amiga que ficou sem empregada depois de anos contando
com este serviço quase pirou por não dar conta de todas as tarefas
de casa. Isso sem perceber. Ficou mais irritada, intolerante,
reclamando a todo o momento de algo a ser feito em casa.
Sempre tinha alguma tarefa a ser feita e ela nunca relaxava.
Aí percebeu que ser mulher é ser alguém com necessidades
como todo mundo e não é preciso ser uma super mulher,
basta ser alguém que viva uma vida saudável e execute tarefas
dentro de suas possibilidades com direito a lazer e prazer.
Acho que devemos ser responsáveis também por mais esta mudança
– equilibrar nosso tempo com sabedoria