quinta-feira, 21 de maio de 2009

DIA DA LUTA ANTIMANICOMIAL

Câmara destaca Dia da Luta Antimanicomial
No período de comunicações temático desta quinta-feira (21/5), os vereadores da Câmara Municipal marcaram a passagem do Dia Nacional de Luta Antimanicomial - comemorado no dia 18 de maio em todo o país. Proposto pela vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), o período contou com a exibição do documentário Ruínas da Loucura - vídeo que instiga a reflexão sobre uma sociedade sem manicômios -, criado e produzido por Karine Emerich e Mirela Kurel.

Estiveram presentes nos debates, o ex-deputado Marcos Rolim, o coordenador do Serviço Residencial Terapêutico Morada Viamão, Rafael Wolski e a coodernadora da Direção de Atenção ao Usuário Morador, Vera Sebben. Presidindo os trabalhos, o vereador Adeli Sell (PT) sublinhou a importância dos debates de quinta-feira. "São discussões de fundo sobre problemas que atingem a cidade, o estado e o país. É dever nosso, enquanto agentes públicos, nos inteirarmos cada vez mais de assuntos de tamanha importância como a reforma psiquiátrica", registrou.

A produtora Mirela Kruel saudou a iniciativa da Casa em abrir o espaço para tratar sobre questões complexas e que exigem atenção do poder público. Ao explicar o projeto Ruínas disse que o objetivo era mostrar a cara das experiências das moradas terapêuticas. "Queríamos dar vazão a um olhar mais humano sobre as doenças e sobre os distúrbios psiquiátricos. É gratificante através do nosso trabalho, dar visibilidade a uma outra maneira de olhar a saúde mental", defendeu.

Reforma Psiquiátrica

Ex-deputado e militante em favor da Reforma Psiquiátrica no Brasil, Marcos Rolim afirmou que os tratamentos psiquiátricos de hoje devem promover a cidadania e a liberdade do paciente e não o encarceramento como forma de cura. "O Brasil precisa avançar e não retroceder neste luta em prol de uma saúde mental digna", enfatizou. Conforme lembrou, o Rio Grande do Sul foi o primeiro estado brasileiro, em 1992, a aprovar uma lei que proibia a construção de novos hospitais psiquiátricos e vedava a ampliação de novos leitos em instituições de saúde mental.

"Na época, a lei foi alvo de muitas críticas, pois os donos de clínicas privadas alegavam que a demanda de internações era muito maior do que o sistema de saúde poderia suportar - o que é uma falácia", repudiou. Segundo Rolim, há uma diminuição clara das internações sistemáticas no Estado, apenas com um acréscimo de internações de dependência química provocadas pela epidemia do crack. "Os dependentes químicos não podem ser tratadados da mesma forma que pacientes com distúrbios psíquicos", esclareceu.

De acordo com Rolim, pior local onde se pode colocar um dependente químico é dentro de um hospital psiquiátrico. "Ele pode correr risco de vida, pois sofre de problemas físicos também", alegou. Para o ex-deputado, as cidades do Brasil precisam desenvolver formas de tratamento alternativas aos hospitais psiquiátricos. "Não podemos aceitar a construção de verdadeiras prisões para apenas enriquecer donos de clínicas", criticou. Segundo ele, a Câmara deve cumprir seu papel em pressionar o Executivo para que Porto Alegre desenvolva mais centros de apoio psicossocial a usuários de drogas. (ES)

Opiniões

Os vereadores manifestaram-se sobre o tema:

Adeli Sell (PT) considerou importante a oportunidade em tratar desse tema na Casa. Na opinião do vereador, pode ser o primeiro passo para um aprofundamento de uma discussão. “Talvez a partir de agora poderemos contribuir de forma mais efetiva”, disse. Também considerou que não há, no Poder Público, uma sinergia entre os órgãos que tratam dessa área. (RA)
Carlos Todeschini (PT) defendeu que esse questão seja tratada sem preconceitos. Lamentou que em Porto Alegre somente o Postão da Vila Cruzeiro receba pessoas com problemas mentais. “Com apenas 20 leitos para toda a população da capital”. Na opinião do vereador, pessoas com problemas mentais são confundidas com drogaditos. “São dois problemas sociais que vem sendo confundidos”. (RA)

Dr. Raul (PMDB) elogiou o grupo que, em Viamão, conforme foi mostrado no vídeo, está se propondo a humanizar doente mentais. Ressaltou que, como médico, tem farta experiência com pessoas que perdem a referência e são consideradas doentes. “Só aí podemos que ver que o Poder Público se faz insuficiente”. Na opinião do parlamentar, a reforma psiquiátrica foi ideologizada. “A idéia era boa, mas infelizmente não deu certo”. (RA)

Fernanda Melchionna (PSOL) elogiou o excelente trabalho apresentado hoje pelos profissionais da área da saúde. “Irá contribuir de forma fundamental para o início de uma discussão que podemos fazer aqui na Casa”, considerou. Segundo a vereadora, a Reforma Psiquiátrica foi fundamental para combater o preconceito que levava ao isolamento pessoas com problemas mentais. “Fora a falta de higiene e a alimentação precária a que eram submentidos”. (RA)

Dr. Thiago (PDT) lamentou que em Porto Alegre não tenha pessoas como as de Viamão que tiveram a iniciativa em tratar desse tema. Disse que considera existir três problemas sociais graves na atualidade. “Um é o crack, o outro o suicídio e o terceiro o aumento de pacientes com problemas mentais”, citou o vereador ressaltando que como médico fica muito preocupado. “São problemas avassaladores”. (RA)

O documentário

Ruínas da Loucura é um documentário em vídeo digital, com duração de 26 minutos, promovido pela Modus Produtora e pela PH 7 Filmes. Único documentário gaúcho entre os sete vencedores do 1º Concurso Fiocruz Vídeo para produções audiovisuais sobre saúde, da Fundação Oswaldo Cruz/RJ, Ruínas trata da história de pessoas anônimas e ex-pacientes do Hospital Psiquiátrico São Pedro experenciando um novo lar no Serviço Residencial Terapêutico Morada Viamão. As gravações foram realizadas no final de 2008, em Viamão e Porto Alegre. (ES)

Ester Scotti (reg. prof. 13387)
Regina Andrade (reg. prof. 8423)

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