quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NOVE DEPUTADOS DO PT/RS SE MANIFESTAM

Aos companheiro(a)s do PT:




Com a eleição de Tarso Genro, alcançada no primeiro turno, o PT gaúcho reencontrou o caminho da vitória. Esse feito significa a abertura de um novo ciclo de crescimento, que deixe para trás a inércia conservadora que impediu o nosso Estado de se beneficiar integralmente das novas possibilidades abertas ao longo dos governos do presidente Lula.

No entanto, para que essa renovação de esperança não derive para a frustração, é preciso que nosso partido, seus dirigentes, militantes e simpatizantes, compreendam as razões que nos fizeram voltar a contar com a confiança de expressiva maioria do povo gaúcho. Pois é ela que confere a autoridade e lhe atribui o prestígio necessário para realizar as transformações.

Assim, é que devemos reconhecer que a vitória foi liderada pelo nosso partido, o PT, muito bem representado pelo companheiro Tarso Genro, mas ela apenas se tornou possível pelo fato de termos conseguido reverter o crescente isolamento que nossos adversários vinham nos impondo. Com derrotas eleitorais no Estado e em cidades importantes como Porto Alegre, Caxias, Santa Maria, Pelotas. Nos últimos anos, inclusive, estimulando a cizânia com os nossos tradicionais parceiros da Frente Popular.

Foi a irresignação com a comodidade do discurso fácil, que a solidão e o isolamento permitem, que nos levou a construir dentro do PT, uma opinião amplamente majoritária sobre a necessidade de ampliar as alianças e vivenciar em nosso Estado, a experiência de disputar com o conservadorismo a formação de um bloco social e político majoritário. Bloco capaz de colocar o Rio Grande nos trilhos do desenvolvimento democrático e inclusivo em curso no Brasil.

A vitória, portanto, foi de um bloco de partidos unidos por um programa e compromissos comuns, respeitando a diversidade de trajetórias e suas relações sociais. Afinal, a realização de alianças políticas só tem sentido se feita com diferentes partidos, que compartilham uma visão de responsabilidades comuns para o período.

Sendo assim, ao invés de diluição partidária, temos a afirmação de uma política e o desafio em realizá-la. Mais desafiador, ainda, é o fato de que nosso governo incorporará partidos que não estiveram conosco na disputa eleitoral, mas com os quais partilhamos a extraordinária experiência de governo no plano federal. No qual a governabilidade permitiu a execução efetiva de programas e políticas públicas que, pela primeira vez, resultaram na diminuição da miséria e na ascenção social da população mais vulnerável.

São tão grandes os desafios que a vitória nos traz, que a arrogância em relação aos aliados não é em nada produtiva e apenas mostra a resiliência de práticas que já foram superadas pela reflexão e resoluções do PT.

Mais do que isso, o insulto aos companheiros e companheiras de diferentes setores do nosso partido, que há muito tempo defendem a superação do isolamento como necessário para retomar o caminho da vitória, além de arrogância, aponta para um viés autoritário. Isso porque não aceita que o amadurecimento do debate partidário encaminhe para a construção de maiorias sustentadas em teses distintas daquelas que anteriormente prevaleciam.

No debate em curso na Assembleia Legislativa, por exemplo, onde contamos com a maior bancada da história do PT, há uma opinião sobre a forma de honrar os compromissos vitoriosos no processo eleitoral, que agrega, neste momento, uma parcela amplamente majoritária da mesma. A disputa envolve os espaços de representação, presidência, comissões, lideranças, relações respeitosas e altivas com os partidos da base. Mas também envolve uma visão e compreensão de governo e qual projeto teremos para os quatro anos, agora como bancada de situação.

Todos os parlamentares são quadro com trajetórias sólidas de esquerda e representam bem o nosso partido, o que não impede de haver diferenças substantivas que até agora impediram o desejado consenso, que sempre deve ser perseguido.

No entanto, quando o debate não consegue alcançá-lo, é da prática democrática – exercitada de forma muito recorrente na experiência do PT gaúcho – que a maioria se concretize, o que não impede que novas sínteses se realizem ao longo do processo, como tem sido muito usual no PT.

A evolução das opiniões sobre o governo do presidente Lula e sobre a política de alianças, entre tantos outros exemplos possíveis, bem demonstra que o PT é um partido vivo, aberto à experiência concreta da disputa entre projetos na sociedade, que requer respostas, também concretas.

Assim, é que nós, deputados da bancada do PT, abaixo-assinados, não nos deixaremos ser atraídos pela discussão simplificada e feita por fora das instâncias próprias, procedimento que serve apenas para desqualificar as opiniões diferentes e trata as suas como possibilidades únicas.

Poderemos fazer o debate de forma dura, mas o faremos com o respeito devido a todos e não estimularemos que essa discussão seja tratada fora das instâncias e de forma distorcida. Seja na mídia, seja por e-mails funcionais, que servem apenas para instrumentalizar um debate regressivo e desqualificado.

Esse compromisso com as instâncias é necessário sempre, especialmente neste momento em que a afirmação da confiança depositada pela grande maioria dos gaúchos no programa vitorioso, que alçou os companheiros Tarso Genro e Beto Grill como governador e vice-governador, precisa ser honrada.

Respeitamos o grupo que hoje é minoritário na bancada e nós, que representamos diferentes grupos de opinião partidária, desejamos também ser por ele respeitado. As instâncias do PT e as representações coletivamente conquistadas devem estar à serviço de todo o partido e não apenas de um segmento, por mais importante que seja.

Afinal, o exercício do poder que nos foi conferido, está sujeito aos compromissos assumidos ao longo da campanha e consolidado em nosso programa, que não esquece o que é passado, pois dele retira os melhores ensinamentos, mas não prescinde da energia e da renovação que os novos desafios nos impõem. Isso é necessário para que a esquerda seja cada vez mais relevante social e politicamente para a realização das transformações que precisam ser feitas no Rio Grande, no Brasil e no mundo.



POA, 22 de dezembro de 2010.

Altemir Tortelli,

Ana Afonso,

Edegar Pretto,

Luiz Fernando Mainardi,

Marisa Formolo,

Miriam Marroni,

Nelson Luiz da Silva,

Valdeci Oliveira,

Adão Villaverde.

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