sexta-feira, 26 de abril de 2013

As mutações do Moinhos de Vento


Por Paulo Renato Rodrigues

Pelo Banco do Brasil, em 33 anos de atividades, morei em quatro estados e 11 cidades brasileiras. Meu projeto era terminar a carreira de bancário em Porto Alegre. Mas, no final de 1997, houve uma antecipação circunstancial e acabei vindo de Caxias do Sul para a Capital, nomeado gerente da agência situada na esquina da 24 de outubro com a Luciana de Abreu, ali quase na frente do Parcão.

Foi a minha apresentação ao Moinhos de Vento. Período espetacular! Amor à primeira vista! O bairro iniciava uma transição, mudando o perfil de residencial para comercial, e isso gerava uma grande polêmica entre os moradores, pois o comentário era o de que ele estava sendo descaracterizado. Começavam a instalar-se cada vez mais bares, restaurantes e escritórios na região.

Recordo que, à época, a Telefônica iniciava as atividades no Estado e boa parte dos executivos espanhóis abriram as suas contas correntes na nossa agência, que ficava próxima à sede da empresa ibérica. O mais interessante era o relato que eles faziam da surpresa com o bairro. Quando souberam da transferência para o Brasil, a impressão que eles tinham é a de que viriam para um país de terceiro mundo. Afinal, essa era a imagem generalizada do Brasil lá fora. Aqui chegando e circulando pelo Moinhos, a sensação deles era a de que estavam "em casa".  "Isso aqui é padrão europeu, não fica devendo nada para Madri", lembro da frase dita por um deles e corroborada em coro pelos colegas num cafezinho descontraído na agência.

Nosso restaurante preferido era um francês, na esquina da Luciana com a Padre Chagas, de propriedade de um cliente do banco, médico, e cuja esposa havia cursado gastronomia em Paris. Pena que não existe mais. Após o almoço, saíamos para comer um doce no Substância e tomar um expresso no Café do Porto. Eram os tempos da qualidade total, tema emergente que o professor Falconi nos encutia em sala de aula. O exemplo para nós estava ao vivo e a cores ali no Moinhos.

Por outra circunstância do destino, minha passagem foi efêmera - durou pouco mais de um ano - pois, em abril de 1999, fui nomeado Superintendente Regional, em Aracaju, no Sergipe. Depois, fui para Santa Catarina, até retornar para Porto Alegre em 2002 e aposentar-me no BB em 2008.

Hoje, andando pelas ruas charmosas do Moinhos, sinto saudades daquele tempo e fico feliz por ter sido testemunha ocular do início da transição para a nova vocação do bairro, hoje, sem dúvida, o point de Porto Alegre. E relembro o que disseram os surpresos amigos espanhóis: o Moinhos é de primeiro mundo mesmo. Claro, tem a questão segurança, mas esse não é um problema exclusivo do bairro, muito menos do Brasil. Eu já vi pessoalmente briga generalizada no aeroporto de Barajas, em Madri, e tiroteio no metrô de Paris, e não tinha  uma linha sequer sobre isso nos jornais no dia seguinte. No entanto, quando tinha alguma notícia do Brasil lá fora, era só sobre violência.


Nenhum comentário: